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O prato é composto de um pãozinho fermentado cozido no vapor com carne suína e repolho. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.

Experiência

Pratos típicos paranaenses que valem uma viagem pelo estado

Redação, com Guta Bolzan especial para o Bom Gourmet
15/02/2020 16:15
O Paraná tem o famoso barreado do Litoral. Mas tem mais: o pão no bafo de Palmeira, o carneiro no buraco de Campo Mourão, a quirera da Lapa, a carne de onça de Curitiba, o porco no tacho do Sul do estado, além de uma diversidade de ingredientes locais e chefs de talento.
Para quem gosta de comer, um prato pode valer um destino. É esse tipo de turismo que o Paraná também quer fomentar. O chef e empresário Beto Madalosso, um dos entusiastas da ideia, defende que o Paraná tem inúmeros locais que valem o passeio só pela comida. Eles só precisam ser descobertos.
O prato é composto de um pãozinho fermentado cozido no vapor com carne suína e repolho. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
O prato é composto de um pãozinho fermentado cozido no vapor com carne suína e repolho. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
“Hoje, esse é um turismo quase silencioso. Há pratos e restaurantes que estão na rotina de muitas pessoas e que têm uma riqueza cultural enorme, mas não são divulgados”, afirma.
Curitibano da gema, Madalosso se envolveu em uma busca quase pessoal por ingredientes locais e roteiros gastronômicos no Paraná. Um dos resultados foi a Expedição Tutano, que já levou muita gente que gosta de comer e funcionários de restaurantes para viagens gastronômicas pelo estado.
“A gente tem que definir o que é do Paraná, fazer estudos, reunir gente. Senão, vai virar tudo hambúrguer e pizza”, afirma. “Porque a tendência é isso: é aquilo a que as pessoas estão acostumadas. É uma comida mais rápida, mais fácil de vender.”
O chef reconhece que não é um trabalho fácil, nem acontece de uma hora para outra. “Muitas receitas tradicionais não estão nos restaurantes, estão nas casas das famílias. Como levar isso para a mesa do turista? É quase que uma construção cultural para difundir isso”, diz.
Para Madalosso, é preciso valorizar e reconhecer essa gastronomia local, que tem raízes culturais e históricas e ajuda a difundir a identidade do estado. “Às vezes essa pessoa simples, que está cozinhando uma receita dos seus avós, nem sabe o papel que tem no universo.”
Foi o que aconteceu em Palmeira, a 70 km de Curitiba, onde o pão no bafo – uma receita de família típica da região, de origem alemã – virou patrimônio imaterial do município e foi incorporado ao cardápio dos restaurantes da cidade. Hoje, motiva visitas e virou até congelado para viagem, como comenta a chef Rosane Radecki, do restaurante Girassol e que esteve à frente do resgate do prato.
“É um turismo que ajuda a desenvolver a economia. Quem vem acaba vendo o que mais tem na cidade, quais são os produtos típicos da região. A agricultura se desenvolve, o produtor de geleia, de salame, de pães, suinocultores… Toda uma cadeia se desenvolve em torno da gastronomia”, afirma Radecki.

Turismo de experiência

Para a jornalista Jussara Voss, especializada em gastronomia, esse é “um turismo de experiência”. “Quando viajam, as pessoas não querem comer a mesma coisa que comeriam em casa; querem experimentar algo local”, acredita. Uma das idealizadoras do projeto Gastronomia Paraná, ela ajudou a promover eventos e oficinas para despertar a busca e o interesse por pratos locais no estado, além de incentivar a experimentação pelos chefs paranaenses. A experiência começou em 2013. De lá para cá, profissionais como Gabriela Carvalho, do Restaurante Quintana, e Manu Buffara, do Manu, despontaram com o uso de ingredientes locais e o resgate de tradições culinárias do estado.
Voss reconhece uma onda de experimentação e redescoberta na gastronomia paranaense. Em Arapongas (norte do Paraná), por exemplo, até uma padaria virou ponto de visitação por turistas da região – principalmente pela forma como trabalha com os ingredientes locais.
“A pessoa entra aqui e já sente o cheiro do café torrado; lembra dos avós, do café passado em casa, dos armazéns de café pela região”, conta o empresário Reginaldo Durigão, que é barista, chef e proprietário da Café com Pão. A confeitaria investiu em cafés especiais: é um dos poucos estabelecimentos do Paraná certificados pela BSCA, a Associação Brasileira de Cafés Especiais. Durigão só serve grãos premiados, comprados em concursos pelo país (não só do Paraná, mas de outras regiões produtoras).
É uma escolha apropriada para uma cidade que viveu o auge do ciclo do café, nas décadas de 1960 e 1970. Arapongas, na época, abrigava o maior armazém de café do mundo. Até trem passava dentro do barracão de três alqueires de área, cujas fotos decoram as paredes da Café com Pão.
O chef também é responsável pela criação de uma sobremesa que virou prato típico de Arapongas: a Terra Roxa, feita à base de abacate, café e cacau. O município é um dos principais polos produtores de abacate do país, e Durigão resolveu aproveitar o ingrediente local no cardápio. Vem gente de fora só para experimentar a sobremesa.
“Esse tipo de comida vira um destino, e o destino se desenvolve por causa da gastronomia”, comenta Patrícia Albanez, consultora de Turismo do Sebrae/PR, para quem a alimentação é um fator-chave no desenvolvimento do setor. Um dos projetos que ela incentiva é a valorização de ingredientes locais por indicação geográfica, uma espécie de selo emitido pelo governo federal que sinaliza que um determinado produto só é feito daquela maneira numa cidade ou região específica.
É o caso da erva-mate de São Mateus do Sul, por exemplo; ou da goiaba de Carlópolis, no Norte Pioneiro; do melado de Capanema, no sudoeste do estado; e da farinha de mandioca do litoral paranaense, entre outros produtos.
“Certa vez fui comprar um sorvete numa franquia e o atendente me disse que o sabor de erva-mate era ‘uma homenagem aos cariocas’”, relembra Voss. “Imagina, é um ingrediente que foi a riqueza do Paraná por muitos anos. Nós temos que nos apropriar disso.”

História no prato

A busca por uma experiência gastronômica de raiz tem se intensificado até mesmo em Foz do Iguaçu, onde o turismo já está consolidado como uma das principais atividades econômicas do município. Foi lá que o chef Fábio Del Antonio inaugurou em 2017 um restaurante de comida brasileira. O menu de seis pratos que ele idealizou conta a história do Brasil.
Num serviço personalizado (o restaurante só abre com reserva antecipada e atende apenas um grupo por noite), o chef oferece comida “sem clichezão turístico”. O primeiro prato se chama “A base indígena” e tem base tupi-guarani, dos índios que ainda habitam a região de Foz: um peixe defumado no moquém (uma grelha de madeira com origem indígena), com um toque de amendoim, ingrediente domesticado pelos guaranis da região. “É uma experiência para a gente refletir sobre quem somos.”
Para ele, que é nascido em São Paulo e mora em Foz há nove anos, é difícil definir o que seria uma gastronomia tipicamente iguaçuense. “Foz é um caleidoscópio”, afirma. “Mas a ideia é buscar uma identidade, ainda que ela seja multifacetada. A nossa unidade, como brasileiros, é essa". Agora, em 2021, o chef está lançando um novo cardápio, batizado de Peabiru, inspirado nas antigas rotas indígenas que ligavam o Pacífico ao Atlântico. Entre os pratos, está o famoso barreado do litoral paranaense.

12 pratos paranaenses que valem uma viagem pelo estado

  1. Barreado
  2. Carne de Onça
  3. Carneiro no Buraco
  4. Costela ao Fogo de Chão
  5. Entrevero de Pinhão
  6. Pachola
  7. Pão no Bafo
  8. Pierogi
  9. Pintado na Telha
  10. Porco no Rolete
  11. Porco no Tacho
  12. Quirera da Lapa
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