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Para empresário paulista, aplicativos de streaming e deliveries serão os maiores concorrentes dos restaurantes na retomada da economia.

Mercado e Setor

Plataformas digitais podem ser os grandes concorrentes dos restaurantes na retomada da economia?

Guilherme Grandi
25/09/2020 12:53
“Sou contrário à digitalização, é como tornar o negócio uma simples commoditie”. A afirmação do empresário paulistano Facundo Guerra, criador de bares icônicos como Frank Bar, Riviera e Club Vegas, pode soar polêmica em tempos como este, em que a internet e o delivery foram as saídas encontradas para a grande maioria dos negócios de food service.
Sem nunca ter tido a pretensão de abrir um negócio de gastronomia, o engenheiro que se tornou empresário da noite diz que essa é a primeira vez nesta geração que vê uma interrupção tão abrupta na vida social. Apesar da digitalização ser o caminho apontado para o mercado, Guerra considera difícil de levar ao pé da letra para quem vive da experiência de bar e restaurante.
“Quando você olha uma pessoa almoçando sozinha num restaurante ou num bar, isso causa um desconforto, já que lá é um ambiente para se viver em comunhão com outras pessoas, com a sociedade”, disse ao participar recentemente do 32º Congresso Nacional da Abrasel.
Para ele, tornar a experiência social em algo restrito a dados e algoritmos se torna sem sentido, por não ter a interação com outras pessoas. Guerra questiona como se consegue construir a socialização e a convivência no formato digital.
“Já pensei em tudo, delivery de drinks, de comida, fazer lámen, de qualquer maneira eu vou estar achatando a experiência que eu proporcionava. Acho que a digitalização não é exatamente a saída de tudo, não tem como concorrer com os grandes do mercado”, pontua.
Novo concorrente
Os grandes do mercado que Facundo Guerra cita como difíceis de concorrer são os serviços digitais que tornaram o confinamento das pessoas um pouco menos penoso. Netflix, YouTube, lives e aplicativos de delivery fizeram os consumidores se sentirem mais confortáveis em casa.
“As plataformas digitais se tornaram um lugar, as pessoas deixaram de sair. É mais fácil elas ‘sequestrarem’ atributos dos lugares físicos do que o contrário. Por todas essas razões, eu acho que as pessoas vão sair menos, todo mundo aprendeu a cozinhar em casa rapidamente e a fazer seu próprio drink”, analisa.
E aqui mora o que o empresário considera como um desafio para os empreendedores do ramo de alimentação fora do lar, o de criar novas experiências para atrair as pessoas de novo e fazê-las sair de casa.
Para Facundo Guerra, é preciso preparar o negócio para quando as pessoas efetivamente “saírem psiquicamente da pandemia, para que eu ofereça uma experiência de convivência de novo, de afeto que existe em uma mesa de bar”.
Mercado menor
Além da concorrência com experiências geradas pelas plataformas digitais, o empresário afirma que haverá mais um desafio: o mercado será menor, e só vai permanecer em pé quem efetivamente profissionalizar a gestão do negócio.
Facundo Guerra vê que muitos negócios já estavam
frágeis antes da pandemia, ainda pela crise econômica que vem desde 2016. Para
ele, quem tinha caixa suficiente agora terá uma espécie de recomeço das
operações.
“Eu não consigo ver um otimismo de oportunidade,
exceto para aqueles que conseguiram sobreviver e vão pegar um mercado aberto.
Saídas como delivery, drinks engarrafados, coisas que respondem a no máximo
15%. Caso contrário é muito difícil ficar em pé”, completa.
Para ele, o empresário que se preocupa mais com o prato do que com o caixa tem menos chance de continuar operando na retomada da economia.
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