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Proprietários de espaços de eventos afirmam que conseguem funcionar seguindo os mesmos protocolos sanitários estabelecidos para os restaurantes.

Mercado e Setor

Pandemia já fechou metade das empresas de eventos do Paraná

Guilherme Grandi
21/08/2020 15:35
Proibidos de funcionar desde o mês de março para conter o avanço do novo coronavírus no Paraná, os espaços e profissionais de eventos já viram metade das operações fechar as portas definitivamente. E o cenário até o final do ano, se nada mudar, pode vitimar sete em cada dez empresas.
É o que estimam a seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) e entidades ligadas ao trade, como a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), o Sindicato das Empresas de Promoção e Eventos (Sindiprom), entre outras. Elas apuram que cerca de 840 mil empregos podem desaparecer até dezembro se o mercado não for retomado seguindo os devidos protocolos sanitários.
O cenário complicado do setor de eventos se soma ao fechamento de quatro em cada dez bares e restaurantes em todo o país até julho, segundo a Associação Nacional de Restaurantes (ANR). E isso fez com que a Abrasel-PR entrasse com uma ação contra a Prefeitura de Curitiba nesta quinta (21) para que as reuniões corporativas sejam permitidas na cidade – a administração municipal diz que aguarda manifestação da justiça.
Segundo o diretor-executivo da entidade, Luciano Bartolomeu, o setor de eventos abriga pelo menos 52 segmentos da economia, como doceiras, serviços de catering, e os próprios restaurantes que não estão podendo receber reservas de reuniões sentadas.
“Digamos que eu quero fazer um evento
corporativo para 30 pessoas em um restaurante com capacidade para 100, é
diferente de eventos sociais como shows e festas em que há aglomeração. Temos
registros de noivas que querem fazer casamentos em restaurantes mesmo com o
distanciamento social”, conta.
Pelo último decreto de bandeira amarela de alerta do contágio da Covid-19 em Curitiba, os estabelecimentos destinados a eventos sociais e atividades correlatas com ou sem música, mostras comerciais, congressos, convenções, recepções, entre outros, seguem proibidos de abrir as portas.
Diferente?
Empreendedores do setor questionam este ponto do decreto municipal, pois afirmam que também poderiam atender dentro das regras de distanciamento social. Proprietária dos buffets Nova Curitiba e Palácio Wawel, Jilcy Rink precisou começar a se desfazer de parte da segunda operação para pagar as contas da primeira.
Desde a semana passada, ela vem anunciando os
equipamentos e mobiliário do Palácio Wawel, que estava indo tão bem antes da
pandemia que pretendia ampliar o atendimento. Agora, restam as incertezas e as
contas para pagar dos empréstimos que conseguiu do Pronampe e do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Os contratos que tínhamos neste ano foram adiados para o ano que vem e serão pagos em 2022, assim a receita de 2021 será totalmente perdida. Só estou aguentando ainda porque o imóvel é meu mesmo, mas ainda assim as despesas de manutenção do espaço de 8 mil metros quadrados são muito caras”, conta.
A dificuldade em manter as operações em pé vitimou estabelecimentos tradicionais do mercado de eventos em Curitiba, como o Buffet Ilha do Mehl. Aberto há 43 anos, o espaço fechou as portas definitivamente em junho por conta dos altos custos de manutenção sem conseguir os prometidos recursos públicos.
Jilcy é uma das autoras da ação contra a Prefeitura para liberar os eventos corporativos e sociais seguindo os protocolos sanitários, tanto que ela deu o nome de ‘reuniões sociais’ ao que pretende passar a operar nos dois buffets. A ideia é poder voltar a realizar pequenos casamentos, reuniões de negócios, divulgações de produtos, entre outros.
“Porque basicamente eu tenho a locação de espaço e comida, a minha similaridade com restaurante é muito grande. Se restaurante pode abrir, por quê eu não posso? São atividades exatamente iguais”, questiona.
A empreendedora conseguiu colocar todos os funcionários nas medidas de proteção ao emprego e renda do Governo Federal, mas o temor é do que vai acontecer quando o estado de emergência acabar e ela tiver que manter a estabilidade deles sem faturamento.
Lidar com o psicológico
Camila Andrade diz que toda a cadeia de food service está sendo afetada pela proibição de casamentos e festas de debutantes, mesmo com a promessa de seguir os protocolos sanitários.
Camila Andrade diz que toda a cadeia de food service está sendo afetada pela proibição de casamentos e festas de debutantes, mesmo com a promessa de seguir os protocolos sanitários.
Atuando há 12 anos no mercado de eventos sociais e corporativos, a produtora curitibana Camila Andrade reclama que o poder público só fala de flexibilizar o funcionamento de bares, lanchonetes e restaurantes, mas esquece que outros espaços também podem trabalhar no mesmo formato. Ela já teve pelo menos 12 eventos adiados, sendo que muitos deles poderiam ser realizados seguindo os protocolos sanitários para evitar o contágio do novo coronavírus.
“A gente tem uma cadeia muito grande de pessoas que dependem da gente, como garçons, buffets, doceiras, uma infinidade de pessoas que estão à míngua, que trabalham por taxa e não conseguiram auxílio do governo. Todo mundo tem alguma resposta sobre o que fazer, menos nós”, diz.
Há ainda o caráter psicológico da situação, de lidar com o sonho das noivas que estavam de casamento marcado e não podem realizar nem pequenas cerimônias sentadas, ou mesmo as debutantes de 15 anos que não poderão reunir os amigos e familiares.
Dá para bater palmas à distância, fazer um brinde à distância, isso não contamina ninguém, não precisa aglomerar. O setor de eventos se funde com o de restaurantes, um existe com o outro, e ambos são afetados por essa proibição”, diz Luciano Bartolomeu, diretor-executivo da Abrasel-PR.
A entidade aguarda um posicionamento da justiça e da Prefeitura de Curitiba para meados da próxima semana. Já a Abrabar e entidades ligadas chegaram a ter uma reunião com o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, para entregar uma carta de compromisso com as medidas que serão adotadas pelos espaços de eventos para funcionar em segurança.
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