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Um gelato cremoso na casquinha: há 20 anos a Freddo mudou a forma do curitibano consumir sorvete.

Restaurantes

Conheça a história da gelateria que mudou a cultura do sorvete em Curitiba

Marina Pilato, especial para a Bom Gourmet
26/08/2022 17:46
Foi de colherada em colherada que a Freddo Gelateria conquistou o paladar dos curitibanos. Quando a primeira loja abriu, na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, em 2002, o fundador Toni Macarini e uma funcionária passaram dias na calçada com pote e colheres a postos oferecendo uma prova para cada transeunte.
“O objetivo era botar na cabeça das pessoas que aquilo não era um sorvete comum, mas um gelato autenticamente italiano”, relembra Toni.
Deu certo. Vinte anos depois, a marca celebra a perenidade do relacionamento com o público da cidade, que resiste ao frio e se transforma com novos modos de consumo.
Fachada da primeira loja Freddo, na Carlos de Carvalho. Ponto é referência até hoje.
Fachada da primeira loja Freddo, na Carlos de Carvalho. Ponto é referência até hoje.
Convencer as pessoas de que elas não precisavam de sol e de temperaturas altas para saborearem os produtos da loja foi uma das primeiras batalhas da Freddo. Até porque o sorvete - conhecido refrescador de verões - é diferente do gelato.
De acordo com Mario Rene Cuellar Fernandes, gestor comercial da Freddo, o segredo está na incorporação do ar na massa. Nos sorvetes convencionais, o ar chega a representar 75% do conteúdo de um pote, por exemplo. No gelato, onde a incorporação é feita de forma mais natural, essa porcentagem varia entre 15% e 25%. Outra diferença está na temperatura: o sorvete é mantido a cerca de -20ºC, enquanto o gelato fica entre -8ºC e -10ºC, o que garante mais maciez e cremosidade ao produto criado na Itália.
Detalhe mostra a maciez da massa do gelato.
Detalhe mostra a maciez da massa do gelato.
O uso do leite e creme de leite frescos, a substituição de essências artificiais por frutas de verdade, a menor quantidade de conservantes, os sabores originais e a escolha de ingredientes selecionados - sejam eles regionais ou importados - completam a fórmula que modificou o jeito de o curitibano consumir o doce gelado.
“A ideia sempre foi mostrar o gelato como um alimento que proporciona energia e prazer, quase como um suplemento. Sensação que já acontecia em países frios que o consomem bastante”, explica Mario.

Abrasileirando um clássico italiano

A origem da gelateria veio de uma vontade do próprio Toni, que depois de 35 anos no ramo da comunicação, sentia falta de um estabelecimento como o que veio a criar em Curitiba. Com a ideia na cabeça, resolveu beber direto da fonte: foi a uma feira focada em gelatos na Itália - até hoje representantes da Freddo vão a eventos assim para atualização e aperfeiçoamento - em busca de receitas e caminhos. Voltou ao Brasil com um gelatiere italiano e as bases para a nova empresa gastronômica.
O tempo trouxe adaptações das receitas ao paladar brasileiro, mas sem perder a essência. A dosagem de açúcar, por exemplo, foi um dos primeiros pontos a ser revisto, já que o açúcar brasileiro, feito a partir da cana, é mais doce do que o utilizado na Itália, necessitando de menor quantidade. “Quando começamos, não tinha limão siciliano aqui. Até conseguir trazer essa fruta, fizemos com limão taiti, que é bem menos suave”, exemplifica Toni.
Sabor Torta Belga, feito com doce de leite bem brasileiro.
Sabor Torta Belga, feito com doce de leite bem brasileiro.
A carta completa da Freddo conta com mais de cem sabores. Porém, a empresa respeita a sazonalidade dos ingredientes. Assim, durante cada época, o cliente pode encontrar cerca de 25 sabores disponíveis nas lojas. Hoje, a marca mistura ingredientes tradicionais italianos a produtos regionais para formar sabores únicos.
O pistache vem dos arredores do vulcão Etna, na região do Cáucaso, na Itália, local conhecido pela qualidade da semente. Já o doce de leite - que brilha em dois grandes sucessos da casa, o sabor Torta Belga e o Magnífico - vem de Viçosa (MG). O morango é de um pequeno produtor rural de Quitandinha (PR) e para o gelato de Dia dos Namorados - inspirado na combinação Romeu e Julieta -, a gelateria contou com queijo especial da Colônia Witmarsum.

Atualizações constantes

Uma anedota do início da jornada da marca, demostra a busca contínua por atender da melhor forma os clientes. Toni relembra que nos primeiros anos do negócio, um tapete vermelho foi estendido em frente à loja da Carlos de Carvalho porque algumas das senhoras frequentadoras se incomodavam com o fato do salto do sapato prender nas frestas das pedras na calçada.
Durante o lockdown da pandemia, um caminhãozinho da Freddo - com jingle e tudo - passava pelos bairros carregando delícias e atendendo os apaixonados por gelato. O período de isolamento social também adiantou um plano antigo da marca de vender sorvete em pote, nos mercados.
Hoje, estão em 140 pontos de venda em um eixo de distribuição que vai de São José do Rio Preto (SP) até Porto Alegre (RS). As lojas próprias também extrapolaram o berço. Hoje são 14, entre Curitiba e Balneário Camboriú (SC).