Restaurantes
Robô-garçom e pratos prontos mais rápido: como serão os restaurantes do futuro
SÃO PAULO — Imagine a cena: você chega em um restaurante e um pequeno robozinho te leva até a mesa disponível. Depois outro vem, faz uma dancinha de boas vindas e bate um papo sobre o cardápio da casa, tira o seu pedido e ainda traz a comida na metade do tempo. Estas são algumas das inovações que devem começar a chegar aos restaurantes brasileiros muito em breve, proporcionando mais agilidade e rapidez principalmente nos horários de maior movimento.

As novidades foram apresentadas na última semana durante a 35ª edição da Fispal Food Service, feira realizada em São Paulo com novos produtos e serviços voltados ao setor de alimentos e bebidas fora de casa. São tecnologias criadas tanto por desenvolvedores brasileiros como estrangeiros que devem moldar o futuro dos restaurantes.
Clélia Iwaki, diretora da Fispal, explica que estes novos equipamentos não necessariamente vão substituir a mão de obra nos estabelecimentos, mas forçarão os atuais trabalhadores a se qualificarem melhor para novas funções. Para ela, o futuro vai ser mais tecnológico, e isso não tem volta.
“O robô no lugar de um garçom, por exemplo, fará com que o serviço seja mais ágil e vai liberar este profissional para uma qualificação que, muitas vezes, será benéfica para o próprio restaurante. Ele não substituirá o ser humano, mas o ajudará a melhorar, e todos ganham no final das contas”, afirma.
Ela diz, ainda que estas novidades não devem demorar a chegar no Brasil – tanto que algumas delas já podem ser vistas em alguns restaurantes. Veja o que já há de aparatos tecnológicos em alguns estabelecimentos e o que está por vir:
Atendente de buffet

Nos restaurantes com sistema buffet, a hora de anotar o peso do prato já é desempenhada por um robô em 16 restaurantes dos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Mato Grosso. O Mogô foi desenvolvido pela startup paranaense Mogo Sistemas em 2017 para ajudar na automação do serviço. Em um primeiro momento, ele apenas registra o pedido.
Funciona assim: o cliente se serve no buffet, coloca o prato na balança e o próprio robô imprime o tíquete com o peso do prato. O valor também é registrado no sistema do restaurante para ser cobrado no caixa.
No entanto, a plataforma ainda não permite ao cliente pedir as bebidas automaticamente. Esta é uma das barreiras que devem ser solucionadas nas próximas evoluções do Mogô. O criador do robô, Andre Neckel, e o sócio, Flavio Medeira, explicam que as novas gerações do sistema usarão até mesmo inteligência artificial no atendimento aos consumidores.
“A próxima evolução terá reconhecimento facial do cliente, então vamos poder identificar se é uma criança ou um adulto, sensor de presença para registrar quem se serviu no buffet, se repetiu o prato, e assim por diante”, conta Andre. De acordo com ele, o tempo de espera na fila foi reduzido em até 40% em comparação com o de um operador humano na balança.
O primeiro protótipo do Mogô levou quatro meses para ser desenvolvido e a versão atual começou a ser entregue no ano passado. Cada unidade custa R$ 6 mil e não inclui a balança, apenas o robô e o sistema de automação. A startup diz que já há uma fila interessados, mas sem revelar números.
Garçom e maître

Já os robôs que substituem garçons e maîtres ainda não chegaram aos restaurantes brasileiros, mas já estão à venda pela startup paulista PluginBot. A Pepper e o Cruzr são dois sistemas humanoides que utilizam inteligência artificial para se comunicar com os clientes, indicando a mesa disponível no restaurante, apresentando o cardápio, tirando dúvidas através de um chatbot e até dançando em um momento de descontração.
Os robôs são importados da China e podem ser entregues aos restaurantes de acordo com a necessidade de cada um. O especialista em hospitalidade da PluginBot, Jorge Della Via Jr., conta que a Pepper e o Cruzr ainda são os únicos disponíveis na América do Sul, mas isso deve começar a mudar em breve.
“A Pepper utiliza um sistema de reconhecimento facial para interagir com as pessoas em tempo real, tirando as dúvidas dos clientes, explicando os pratos e anotando os pedidos. Ela pode integrar com qualquer sistema pretendido. Já o Cruzr é mais divulgado como um assistente de concierge, bastante utilizado para esclarecer informações por meio de chatbot que mostra os ambientes de um hotel, por exemplo, e também pode levar as pessoas até a mesa ou a sala com a ajuda de um mapa de calor embutido”, conta.
As duas tecnologias começaram a ser trazidas ao Brasil no ano passado e custam a partir de R$ 130 mil dependendo das funcionalidades pretendidas pelos estabelecimentos. Fora do país, os dois robôs já são utilizados em restaurantes, hotéis e até hospitais da China, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos.
Comida mais rápida

As novas tecnologias não ficam restritas apenas no atendimento aos clientes. As cozinhas dos restaurantes também estão ganhando novos aparatos, como o forno que assa os alimentos até quatro vezes mais rápido que um aparelho comum. O VarioCookingCenter, da multinacional Rational, utiliza uma tecnologia que mantém o forno aquecido por mais tempo de maneira uniforme. Além disso, permite a limpeza do aparelho entre um preparo e outro em cerca de 15 minutos.
Henrique Medina, gerente nacional de vendas da empresa no Brasil, conta que a tecnologia em si não é nova e já é utilizada por grandes fornecedores. No entanto, as versões mais recentes estão se tornando mais acessíveis aos restaurantes medianos.
“O sistema do VarioCookingCenter faz um pré-aquecimento de 0 a 200 graus em até dois minutos e meio. Depois disso ele mantem a temperatura desejada. Em média, o tempo de preparo com esta tecnologia é até quatro vezes mais rápida do que em um forno comum”, explica.
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Ele ressalta que isso não quer dizer que a comida chegará à mesa do cliente tão rápido quanto o preparo, já que depende do ritmo de trabalho de todo o restaurante. Mas isso vai permitir uma entrega mais ágil na cozinha e no salão.
Cada forno custa a partir de R$ 80 mil dependendo do tamanho e dos acessórios pedidos pelo restaurante – há versões de 25 litros até 150 litros.
*o jornalista viajou a convite da Fispal Food Service 2019.
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