A canção-tema do longa-metragem Frida, interpretada pela cantora mexicana Lila Downs e pelo baiano Caetano Veloso, leva o título de "Burn It Blue". Certamente trata-se de uma alusão à casa que hoje abriga o Museu Frida Kahlo, no tranqüilo bairro colonial de Coyoacan, na Cidade do México.

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Ao adentrar o prédio todo pintada de um azul intenso, lancinante como a alma da artista, é inevitável ser tomado por um turbilhão emoções. Ao mesmo tempo delicada e aconchegante em sua arquitetura, a agressiva cor onipresente de suas paredes também gera vastas e intensas sensações. Afinal, ali Frida viveu suas dores, amores, inquietudes. Literalmente até a medula.

O acidente que lhe deixou a coluna fraturada e determinou tanto os rumos de sua história pessoal quanto de sua obra ecoa nos corredores da Casa Azul. Seja em seus quadros, que retratam um ser de alguma forma sempre mutilado, emocional e fisicamente, seja nos objetos que povoam o museu – o colete de gesso usado por meses durante a recuperação após o acidente repousa sobre uma cama de solteiro, leito dos delírios febris da artista. Impossível controlar os arrepios ao vê-lo de perto, já amarelado pelo tempo, mas ainda coberto pelos traços de Frida, que dele fez uma de sua telas, cobrindo-o de desenhos de borboletas e inscrições. Separar Frida de sua obra é impossível. Entrar na Casa Azul, portanto, é penetrar um pouco na sua vida, mas também na sua paixão por Diego Rivera, cuja biblioteca ainda está como se ele fosse chegar a qualquer momento. Entre os livros, um volume sobre o brasileiro Portinari meio empoeirado.

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Como diz a canção, o azul continua queimando.

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