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Os dois filmes têm "mundo" no nome e foram feitos por mulheres. Mas, apesar de ambos tratarem de questões muito semelhantes e inerentes ao universo juvenil, Antes Que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, e As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanszky, são muito diferentes em suas escolhas formais e de linguagem. São produções que, mais do que contemplar um público que nunca recebeu a atenção merecida do cinema nacional, se destacam pela qualidade.

Os longas-metragens foram reconhecidos nos festivais por onde circularam antes de estrear nos cinemas. O filme de Ana Luiza recebeu, em 2009, seis prêmios no 2.º Festival de Cinema de Paulínia e o Prêmio Itamaraty de melhor longa de ficção brasileiro da Mostra Internacional de São Paulo. Laís faturou oito troféus no Cine PE, em Recife, em abril passado.

"Uma boa história é boa para todo o público. Acho que fiz algo maior do que somente ‘um filme para adolescentes’", diz Ana Luiza. Ela não fez concessões neste que é seu primeiro longa, mas diz ser preciso falar a mesma língua dos adolescentes. "Não adianta exagerar em longos planos se os jovens estão acostumados a outros ritmos", diz.

Se fosse outro momento de sua vida, talvez a novela Antes Que o Mundo Acabe, do escritor Marcelo Carneiro da Cunha, passasse despercebida pela diretora gaúcha. "É um livro com público enorme, muito usado nas escolas daqui", conta. Com filhos adolescentes em casa e, por isso, muito envolvida com o universo dessa faixa etária, decidiu chamar os "comparsas" Jorge Furtado, Paulo Halm e o marido, Giba de Assis Brasil, para assinar o roteiro do filme com ela.

A equipe, com quem trabalha na Casa de Cinema de Porto Alegre, uma das mais ativas produtoras do país, fez algumas alterações na história original como, por exemplo, a transferência do cenário de Porto Alegre para a fictícia Pedra Grande, no interior do Rio Grande do Sul. Ali, Daniel (Pedro Tergolina), de 15 anos, vê sua vidinha pacata se alterar quando a namorada (Bianca Menti) se envolve com seu melhor amigo Lucas (Eduardo Cardoso) e ele passa a receber cartas do pai que nunca viu – um fotógrafo que viaja pelo mundo registrando imagens de povos remotos.

Ana Luiza considera o surgimento de produções relacionadas ao universo dessa faixa etária essencial para a formação de plateias. "Os jovens não estavam comprometidos com o filme brasileiro", diz. Isso pode mudar, a julgar pelo interesse provocado pelo terceiro longa de Laís Bodanszky (Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudades) – em boa parte por conta da participação do galã Fiuk, cantor e ator da novela Malhação.

A produção aborda questões essenciais do universo adolescente sob o ponto de vista de Mano (Francisco Miguez) que, não bastasse o sofrimento gerado pela separação dos pais, enfrenta outros problemas como o ambiente escolar hostil, a perda da virgindade e a depressão do irmão um pouco mais velho (Fiuk).

São questões recorrentes em meio à instabilidade destes anos de indefinição, em que não se é nem criança nem adulto. Aliás, um dos muitos desafios de se filmar a juventude está justamente aí. "Os atores mudavam do dia para a noite e, como o filme demorou para ficar pronto, isso foi um problema", lembra Ana Luiza.

Mas, além das mudanças físicas, cineastas dispostos a filmar jovens enfrentam um desafio muito maior.

Ao contrário do universo infantil, muito mais fixo, adolescentes mudam de gostos estéticos, comportamentos e valores bem mais rapidamente e, por isso, é preciso ficar atento para que o filme – que, por vezes, demora anos para ser finalizado – não se torne anacrônico e deixe de provocar a identificação dos espectadores com os jovens personagens. (AV)

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