A melhor idade do mundo
Os dois filmes têm "mundo" no nome e foram feitos por mulheres. Mas, apesar de ambos tratarem de questões muito semelhantes e inerentes ao universo juvenil, Antes Que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, e As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanszky, são muito diferentes em suas escolhas formais e de linguagem. São produções que, mais do que contemplar um público que nunca recebeu a atenção merecida do cinema nacional, se destacam pela qualidade.
Longe dos grandes centros
O jovem diretor Esmir Filho, de 27 anos, produziu belos curtas com temática adolescente como o sensorial Saliva, sobre o primeiro beijo de uma menina de 12 anos, e Alguma Coisa Assim, sobre decepção amorosa. Mas em seu primeiro longa, Os Famosos e os Duendes da Morte, vai mais fundo neste universo de forma onírica e silenciosa.
Sessão da tarde
A repórter Annalice Del Vecchio nunca vai esquecer dos anos em que voltava da escola e assistia à Sessão da Tarde. Além de Os Goonies e Conte Comigo, adorava os filmes adolescentes produzidos nos anos 80. Veja vão alguns deles para matar a saudade.
O apelo dos "jovens adultos"
É um negócio impressionante. Os livros infantojuvenis dominam o mercado editorial brasileiro de maneira incontestável. As listas de livros mais vendidos servem de prova. Na relação que este jornal publica amanhã, elaborada pela Saraiva, seis dos dez títulos de ficção miram o público jovem, com os escritores Nicholas Sparks e Stephenie Meyer liderando as preferências.
Para conhecer
O meio dos livros infantojuvenis é prodigioso em autores de sucesso.
É preciso cumprir com eficácia o "dever de casa"
Abril de 2010, pré-estreia do filme As Melhores Coisas do Mundo em Curitiba. Aparentemente, a grande maioria dos adolescentes que compareceu à exibição estava na "defensiva" com o filme dirigido por Laís Bodanzky e inspirado na série de livros Mano, escrita por Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto.
O adolescente sempre esteve na mira do cinema norte-americano. Basta lembrar das superproduções lançadas por Hollywood que levam manadas de jovens ao cinema blockbusters como as adaptações de HQs Batman e Homem-Aranha, a trilogia de O Senhor dos Anéis e a série romântica e vampiresca Crepúsculo.
Sem contar os inúmeros títulos que, há décadas, lidam de forma mais direta com o universo teenager. Um dos mais emblemáticos é Juventude Transviada, de 1955, protagonizado por James Dean, que causou alvoroço na época ao retratar a rebeldia de jovens oprimidos pelos valores conservadores de seus pais.
Com algumas raríssimas exceções produzidas de tempos em tempos, parece que só agora o cinema brasileiro decidiu prestar atenção no público adolescente que, em boa medida por falta de opções nacionais, lota as salas de cinema para assistir a produções made in USA mais relacionadas ao universo do entretenimento do que do bom cinema. Do ano passado para cá, foram produzidos cinco longas no país que traduzem questões de interesse dos jovens em boa cinematografia sem contar os inúmeros curtas que, independentes, ousam ainda mais em suas temáticas.
Amores de verão
O frágil e complexo universo adolescente sempre abasteceu o cinema e a literatura com farto material. O cineasta François Truffaut, que dirigiu jovens nos filmes Os Incompreendidos e A Idade da Inocência, escreveu: "A adolescência traz consigo a descoberta da injustiça, o desejo de independência, o desmame afetivo, as primeiras curiosidades sexuais. (...) é, enfim, do ponto de vista de qualquer artista, a idade mais interessante a ser iluminada".
Na década de 70, quando se viveu o auge da liberdade sexual iniciada nos anos 60, com a descoberta da pílula, filmes como o belo Verão de 42 (1971), de Robert Mulligan, retratam a iniciação sexual de jovens rapazes. No drama, Hermie (Gary Griemes) vai com outros dois amigos passar férias de verão na ilha de Nantucket, em 1942, e lá se apaixona por Dorothy (Jenniffer ONeill), uma mulher mais velha e carente, cujo marido está servindo na Segunda Guerra Mundial.
O filme foi evocado no Brasil em uma das raríssimas produções brasileiras dedicadas a esta faixa etária: Houve Uma Vez Dois Verões, de 2002, estreia em longas-metragens do gaúcho Jorge Furtado, diretor do consagrado curta Ilha das Flores.
A comédia romântica acompanha os amigos Xico (André Arteche) e Juca (Pedro Furtado) em férias com os pais em Torres, a "maior e pior praia do mundo", segundo eles. Em um fliperama, Xico conhece a jovem Roza (Ana Maria Mainieri), se apaixona, e eles transam no primeiro encontro, mas ela some. De volta a Porto Alegre, ele decide procurá-la para tirar satisfação e acaba se envolvendo em uma série de confusões.
Jorge Furtado, que depois dirigiria outros filmes que se aproximam do universo jovem como Meu Tio Matou um Cara? e O Homem Que Copiava, não foi o primeiro a filmar adolescentes no país. Bem antes, o diretor carioca Xavier de Oliveira realizou duas produções tratadas hoje como cult movies nacionais: Marcelo Zona Sul (1970) e André, a Cara e a Coragem (1971).
O primeiro, estreia do diretor que revelou os atores Stepan Nercessian e Françoise Forton, é um retrato da juventude no Rio de Janeiro dos anos 60, ainda submetida às rígidas tradições da sociedade carioca. Nercessian é Marcelo, de 16 anos, filho rebelde de um rigoroso funcionário público, que prefere namorar a bela Renata (Françoise) pelas praias e festinhas a estudar. Quando o pai corta sua mesada, ele decide viajar pelo mundo de carona. No filme seguinte, Nercessian é um garoto interiorano que, ao tentar a vida no Rio, enfrenta uma série de dificuldades, torna-se gigolô e engravida uma operária.
Nos anos 80, outras produções esparsas filmariam jovens de forma descompromissada, entre elas, o dueto de aventura Menino do Rio (1981) e Garota Dourada (1984), de Antônio Calmon, em que o ator André de Biasi (o Lula, de Armação Ilimitada) vive o surfista Ricardo Valente. No primeiro, ele se apaixona por uma modelo e, para conquistá-la, terá de enfrentar a família e o noivo dela. Na continuação, já mais velho, é abandonado e decide seguir para o litoral com a filha e o astro de rock Zeca (Sérgio Mallandro). Ali vai conhecer a tal "garota dourada", Diana (Bianca Byington).
Coincidências
Mas é na esteira do filme de Jorge Furtado que uma súbita leva de longas dedicados ao público adolescente começou a circular pelo país de 2009 para cá: os gaúchos Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, e Morro do Céu, de Gustavo Spolidoro; os paulistas As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanszky, e Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho; e o carioca Desenrola, de Rosane Svartman.
Vale observar, a título de curiosidade, algumas coincidências: além da simultaneidade com que surgiram, duas das cinco produções foram dirigidas por gaúchos, três se passam no interior do Rio Grande do Sul e três diretores são mulheres.
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