A tranqüilidade do bairro São Francisco, onde está instalado o ACT, em uma antiga estufa de bananas, é um dos motivos que trouxeram Luis Melo de volta a Curitiba. "Aqui é possível viver e produzir com mais calma", diz. Longe das solicitações sociais, freqüentes no eixo Rio-São Paulo, ele se sente livre para seguir o seu ritmo de trabalho.
Com uma trajetória artística madura nos palcos, no cinema e na televisão, Melo fez o caminho inverso de muitos atores jovens que saem da cidade em busca de espaços menos "antropofágicos" como às vezes parece ser Curitiba. Mas, o artista acha que já é possível encerrar o período de "êxodo teatral" que há tempos esvazia o cenário cultural curitibano. "O melhor cartão postal é o trabalho que se está fazendo. A televisão cria uma ansiedade de ter que aparecer rapidamente, mas de maneira pouco sólida. Digo sempre que a formação ninguém pode te tirar. Entrar é fácil, mas permanecer lá dentro...".
Se a cidade não pode competir comercialmente com as grandes capitais do país, onde há mais público, espaço e dinheiro, tem como trunfo seu material artístico, que, como diz Melo, "tem peso de ouro lá fora". "Já me disseram que somos incríveis porque somos pessoas aparentemente normais, mas que enlouquecem no lugar certo", diz.
Suicídio cultural
A evasão de talentos continua basta citar alguns exemplos como os grupos Os Satyros, Sutil Companhia de Teatro, Companhia Brasileira de Teatro e Grupo Armazém , mas Melo afirma que, para que elas voltem, basta chamá-las. Algumas, aliás, fazem questão de manter seus escritórios aqui para não perder o vínculo. "Temo o suicídio cultural. A gente se acostuma a aparecer mais fora do que aqui e, então, não briga por espaço".
Mesmo sem muito apoio governamental, o Paraná é destaque nacional quando se fala em artes cênicas. "As pessoas mal estrearam aqui e já recebem o olhar de fora. Se a gente não se mexer vai acontecer essa evasão novamente". O problema parece ser o excesso de discrição curitibana. Tudo acontece no silêncio e, muitas vezes, não se fica sabendo. "Se fôssemos pensar na dimensão do trabalho que produzimos, estaríamos gritando", calcula Melo (AV).
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