Trilogia do esquecimento
Um falso documentário sobre um poeta japonês feito por um cineasta americano que também não existe. Essa é a sinopse de "Satori Uso", de Rodrigo Grota, um dos filmes mais comentados e elogiados no Festival de Gramado 2007, no qual recebeu os Kikitos de melhor curta-metragem pela crítica e melhor fotografia, além do prêmio aquisição do Canal Brasil.
Rio de Janeiro (RJ) A noite de hoje será paranaense no Festival do Rio 2007. Duas produções do estado estarão em destaque na tela do tradicional Cine Palácio, dentro da prestigiada mostra competitiva Première Brasil: o longa-metragem Estômago, do curitibano Marcos Jorge, e o curta-metragem londrinense Satori Uso, de Rodrigo Grota.
Tendo no currículo dois premiados curtas-metragens de ficção O Encontro e Infinitamente Maio e vários vídeos e documentários, Jorge se diz emocionado com a estréia-solo em longas (ele tem outro filme finalizado, Corpos Celestes, co-dirigido ao lado de Fernando Severo, ainda não lançado). "A gente passa tanto tempo envolvido em um projeto, que perde a noção das coisas por alguns momentos. Não é fácil dar a cara para bater pela primeira vez logo em um dos principais festivais do país", confirma o cineasta em entrevista exclusiva ao Caderno G. A produção tem sido muito comentada nos últimos dias por profissionais do cinema e da imprensa, e chega cercada de muitas expectativas.
Para se chegar nesse ponto, de estrear na mostra que, atualmente, é a mais importante plataforma de lançamento de produções nacionais, foram três anos de trabalho. Estômago foi realizado pela Zencrane Filmes (produtora do diretor e de sua esposa, Cláudia da Natividade) com recursos do edital do Ministério da Cultura (MinC) para produções de baixo orçamento. As filmagens aconteceram em Curitiba e São Paulo. Um contrato de co-produção com a italiana Indiana Production Company garantiu a finalização da fita na Europa.
Jorge trabalhou por 12 anos no Velho Continente, fazendo muitos contatos. "Logo que tive a primeira versão do roteiro, imediatamente a enviei para o Fabrizio (Donvito), antes mesmo de ele criar a Indiana. Quando vencemos o edital do MinC, ele propôs a co-produção e fechamos contrato". O cineasta lembra que a parceria permite que o filme tenha duas bandeiras, a brasileira e a italiana. "É um filme brasileiro, feito uma equipe e atores brasileiros, sem grandes interferências externas. Mas, para o mercado europeu, ele é italiano, o que permite uma diferenciação e facilidades nas futuras negociações de distribuição", continua.
O diretor revela que já há interesse de distribuidores ingleses. No Brasil, o filme foi abraçado pela carioca Downtown Filmes, distribuidora que tem no currículo filmes importantes como Cidade do Deus, Central do Brasil, Olga e O Céu de Suely. "O Bruno Wainer, diretor da Downtown, se interessou pelo projeto desde que lhe enviamos o primeiro corte do filme", confirma.
A previsão é que Estômago seja lançado nos cinemas brasileiros em março de 2008, mas uma boa recepção no Festival do Rio pode determinar novos passos na carreira do longa. Já está confirmado o convite para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a ser realizada no fim de outubro. Há interesse dos produtores que o filme também passe em algum festival americano Sundance é a preferência , para facilitar o acerto com um distribuidor nos Estados Unidos.
Poder e gastronomia
Estômago conta a história de Raimundo Nonato, um nordestino que vem tentar a sorte em Curitiba. Seus dotes culinários vão marcar sua trajetória, tanto nos primeiros momentos na capital quando se envolve com a prostituta Íria e com Giovanni, dono de um restaurante italiano, que lhe ensina os segredos da cozinha como na prisão em que vai parar um tempo depois tendo que lidar com o bandido Bujiú. Esses dois períodos da vida do personagem correm paralelamente na trama do longa.
"Esse filme tem uma pegada diferente e pouco explorada no cinema nacional atual, apresenta uma temática fora dos padrões tradicionais. É uma fábula nada infantil, que trata, ao mesmo tempo, de gastronomia, sexo e relações de poder", defende Marcos Jorge.
Os protagonistas da fita seriam Matheus Nachtergaele, a curitibana Guta Stresser e o cantor/ator Seu Jorge, mas os papéis acabaram parando nas mãos de João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus), da também curitibana Fabiula Nascimento e do carioca Babu Santana (Quase Dois Irmãos, Cidade de Deus) completa o elenco principal o ítalo-brasileiro Carlos Briani. Há participações especiais de Paulo Miklos (O Invasor) e do uruguaio Jean Pierre Noher (Um Amor de Borges).
Figura carimbada do cinema nacional, Nachtergaele se inviabilizou para o projeto a partir do momento em que se dedicou completamente à sua estréia na direção de longas, com A Festa da Menina Morta. Guta estava muito envolvida com A Grande Família (série e filme) e Seu Jorge não deu uma resposta interessada depois de receber o roteiro.
"Ter o João Miguel como Raimundo Nonato acabou se revelando uma grande sorte para o filme. Foi uma escola trabalhar com ele, que marca uma forte presença dentro de qualquer elenco", comenta Jorge, que informa ter acertado com o ator pouco antes de Cinema, Aspirinas e Urubus ser o filme brasileiro selecionado para tentar uma indicação ao Oscar deste ano.
"A Fabiula (Íria) levou o papel na raça, fez três testes e concorreu com muitas atrizes. Já o Babu (Bujiú) fez um teste arrasador, superando até o Flávio Bauraqui (Madame Satã). É um ator muito intuitivo e sério, e estou pensando nele para o meu próximo longa", avisa o cineasta. Outra peça importante na realização de Estômago é Toca Seabra, diretor de fotografia de importantes produções como O Invasor e Cidade Baixa.
Marcos Jorge ainda comenta sobre Corpos Celestes, primeiro projeto de longa-metragem contemplado pelo edital de cinema e vídeo do Governo do Paraná: "Por contrato, devemos lançar o filme até o final de 2008. Ele está pronto e ainda estamos negociando a distribuição. Foi uma estratégia da produtora apresentar Estômago antes. Uma boa carreira deste vai acabar ajudando no lançamento de Corpos Celestes".
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