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A diretora indiana Mira Nair não esconde em nenhum momento em seu novo filme, Amelia (veja trailer e fotos), o carinho que sente pela personagem que escolheu retratar - a americana Amelia Earhart, uma das pioneiras da aviação mundial e que se tornou uma celebridade em seu país, nos anos 1930, ao quebrar vários recordes no comando de um avião.
Foi comparada, na época, ao pioneiro Charles Lindbergh, celebrado pelo voo solo que fez sobre o Atlântico, em 1927. Façanha que ela repetiu e quis superar com uma volta ao mundo.
A vida de Amelia é repleta de desafios, aventuras, fracassos e realizações, mas Nair preferiu dar maior destaque para sua paixão pela aviação, o combustível que a movia, acima de tudo. Foi uma boa escolha, pois, graças às proezas de Amelia, muitas mulheres puderam também entrar nesse clube restrito até então aos homens e desenvolver uma carreira.
Hilary Swank ("Menina de Ouro") encarna com empenho o papel da aviadora pioneira, dosando de forma correta a teimosia da personagem em assumir riscos, sem que demonstre arrogância aos olhos do espectador.
Não há como não aprovar as escolhas de Amelia, mesmo quando arriscadas e beirando a insanidade, já que o que está em julgamento é a capacidade de uma mulher de aceitar desafios e realizá-los como um homem o faria. Ela sabia que, se fracassasse, todo seu passado de sucessos seria esquecido e o futuro de muitas mulheres, comprometido.
O filme começa com a viagem ao redor do mundo que ela está prestes a concluir, em 1937. No comando de um Electra, acompanhada por um navegador alcoólatra, ela parece uma criança feliz sobrevoando as savanas africanas.
O filme não mostra, mas Amelia também passou pelo Brasil, onde fez uma escala em 6 de maio de 1937, em Fortaleza (pagou 800 mil reis, o equivalente a 50 dólares, por uma diária no Excelsior Hotel), e circulou pelas ruas da cidade de calças compridas e camisa xadrez.
O acompanhamento dessa viagem é alternado com cenas do passado, que mostram o início da carreira da aviadora, em 1928, quando se candidatou a cruzar o Atlântico num projeto patrocinado pela socialite americana Amy Phipps Guest, interessada que uma mulher repetisse a façanha de Lindbergh um ano antes.
Esse projeto, coordenado pelo editor e publicitário George Putnam (interpretado por Richard Gere), deslanchou sua carreira e marcou o início de um relacionamento com o próprio Putman, com quem se casou, depois de uma insistência muito grande da parte dele. Amelia não queria que o casamento interrompesse sua carreira e deixou essa condição clara desde o início. Para Putman, era doloroso aceitar os longos períodos longe da mulher, temendo que ela não retornasse da última aventura.
O grande mérito de Mira Nair é nunca perder de vista essa relação tão especial entre dois personagens que se amam muito, mas não podem viver juntos. O encantamento dessa relação é sentido quando estão sozinhos e se falam pelo rádio, ultrapassando a fronteira dos países. É o preço que têm de pagar pelo respeito à liberdade do outro.
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