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Cultura e Lazer | 5:49

O comediante curitibano fala sobre o legado deixado por Chico Anysio e conta como foi o período em que participou do programa Zorra Total, ao lado daquele que considera a referência para seu trabalho.

Chico Anysio é um gênio do humor! O comediante precisa ter varias qualidades: carisma, timing, versatilidade, presença de espírito, capacidade de improvisação, saber incorporar o personagem, fazer vozes, escrever seu próprio texto, criar personagens, criar piadas factuais e ter uma capacidade de observação acima do normal. Difícil é reunir todas estas qualidades em uma só pessoa. Assim era Chico Anysio.

Quando eu era garoto, assistia ao programa Chico City e adorava imitar os seus personagens e nem sonhava em ser humorista na época. Mais tarde, surgiram os programas Chico Anysio Show e Chico Total, sempre com mais e mais personagens, uma fonte inesgotável de criatividade. É muito difícil encontrar na história do humor mundial alguém que tenha criado tantas caracterizações. Todos os seus personagens passavam muita verdade. Era impossível acreditar que Salomé de Passo Fundo fosse a mesma pessoa que o pão duro Gastão, ou que o jogador Coalhada fosse interpretado pelo mesmo ator que o contador de causos Pantaleão, e isso graças ao seu talento de interpretação e à capacidade de mudar o timbre da voz como ninguém.

Como telespectador de Chico Anysio aprendi que para compor um personagem é preciso uma combinação de características. Por exemplo: com Tavares, do bordão "Sou, mas quem não é!", Chico não criou simplesmente um bêbado. Tavares era um bêbado gigolô e seu personagem no quadro era o de um genro folgado. Qual família não tem um genro folgado? Ao criar o Painho, não era simplesmente um Pai de Santo: era um pai de santo gay que atendia às celebridades. Alberto Roberto ainda é atual, uma crítica aos galãs que ganham fama em uma novela, mas são extremamente despreparados.

Mais tarde, com a Escolinha do Professor Raimundo, Chico mostrou ser também generoso com seus colegas. O programa reunia todos os estilos de humor, lançando novos comediantes e reunindo a turma da velha guarda. A Escolinha foi o único programa de humor cultural da tevê brasileira, pois o Professor Raimundo, de forma irreverente, passava conhecimento para o telespectador.

Chico também tinha uma língua afiada. Uma vez, uma jornalista perguntou a ele: "Você se considera ator?" Ele respondeu: "Depende, você se considera jornalista?" -- como quem diz, atuar é fácil, difícil é fazer o personagem Popó!

Chico não só era humorista, era ator, compositor, redator, pintor, radialista e diretor. Acreditava poder fazer muita coisa, principalmente filhos – nove no total. Tinha tantas ex-mulheres que não pagava pensão. Era quase um complexo hoteleiro. Foi casado até com a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello – irônico, o único caso de humorista que comeu a piada!

Dono de infinitos personagens, Chico sempre se apresentou no teatro de cara limpa. Foi um dos percussores do stand-up comedy, estilo de humor americano que hoje em dia está muito em alta.

Com o tempo, me tornei amigo e colega de seus filhos Nizo Neto e Bruno Mazzeo. Ambos me deram a honra de suas presenças no festival Risorama, que organizo anualmente em Curitiba. Ano passado, tive o prazer de contracenar com Chico Anysio no programa Zorra Total, com seu personagem Bento Carneiro, uma experiência que guardarei no meu currículo. O mais legal era ficar ouvindo suas historias de bastidores. Também tive o orgulho de lhe prestar uma bonita homenagem no Festival Risadaria, em São Paulo, do qual sou curador.

O humor faz parte do DNA do brasileiro e, se hoje temos o Ceará como o berço dos humoristas do país, Chico Anysio foi o cearense que deu origem à essa série de talentos.

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