Passar a infância assistindo ao humor de Chico Anysio fez de Fábio Silvestre não apenas um fã e comediante, mas também plantou nele um sonho: assistir no teatro aos personagens do mestre. Isso porque Chico, apesar de ter criado mais de 200 tipos engraçados para a televisão, se apresentava ao vivo de "cara limpa", em smoking, numa espécie de protocomédia stand-up. Usava as vozes de suas criações, mas o foco eram as piadas.
O desejo de Fábio não se realizou, mas deu lugar a algo ainda melhor: em junho de 2008, em pleno Guairão, ele apresentou seus próprios personagens, saídos do show Curitiba em Comédia, numa sessão aberta por ninguém menos que o ídolo Chico Anysio.
"Normalmente, ele se apresentaria depois, mas era noite de jogo entre Brasil e Argentina e ele quis fazer antes para poder ir assistir", rememorou Fábio, em conversa com a reportagem.
Em sua participação, o mestre lhe trouxe uma surpresa agradável ainda que um pouco constrangedora para o jovem artista: teceu elogios a Fábio, a quem comparou com Tom Cavalcante, dizendo que apostara neste último e tinha dado certo, e que tinha certeza de que poderia fazer o mesmo com o criador de O Bêbado peça de Fábio em cartaz há dez anos.
A ideia de convidar Chico para dividir o palco com ele havia partido de um amigo, e Fábio acatara a sugestão e enviara seu material para o Rio. "Precisa acreditar que as coisas são possíveis, porque a gente acaba dando uma dimensão muito grande a elas."
Herança
Fábio lamenta que a nova geração de adolescentes desconheça a herança de Chico na televisão, e tenha tido contato com ele apenas pelas visitas ao programa Zorra Total, quando o comediante "conseguiu realizar seus personagens, mas já não estava com a mesma força de antes".
Fábio confessa: "Hoje faço coisas que eu gostaria de ter visto ele fazer. O tipo de trabalho que eu faço é muito parecido com o do Chico, com personagens. Não tem como não ter influência desse monstro."
O personagem Bigode, motorista criado por Fábio e apresentado no show ao lado de Chico, foi escolhido para a temporada 2012 do programa A Praça É Nossa, exibido pelo SBT todas as quintas-feiras, às 22h30.
ChargesPersonagens ilustrados
Uma das mais interessantes homenagens já feitas a Chico Anysio foi publicada em 2007 pelo cartunista Ziraldo, que reuniu 45 colegas para eternizarem em livro caricaturas de 77 personagens do humorista. Em É Mentira, Chico?, editado pela Di Momento, os múltiplos traços amplificam a riqueza de tipos criados pelo artista cearense.
Quando selecionava as penas que ilustrariam a história de Chico na televisão, o curador Rick Goodwin (ex-Pasquim) convidou o paranaense Ademir Paixão, chargista desta Gazeta, para arregaçar as mangas num sorteio, ele ficou com Nicanor do Calo e Santelmo.
"Eu gostava muito de assistir. Na época, era obrigatório ver Chico e o Gordo [Jô Soares]. A gente segurava aquela noite para isso", relembra Paixão.
Ele lamenta que o humor tenha se tornado mais agressivo. "Já o Chico era um humorista nato. Dava alfinetada, mas não ridicularizava. Era um humor do amigo da onça, que é bem a característica do brasileiro, que dá risada da própria miséria."
No prefácio do livro, Ziraldo concorda que o comediante tenha entendido muito bem sua nação. "Chico Anysio, possivelmente, não passará para a História como um dos nossos grandes intelectuais. A posteridade, é claro, não faz jus aos humoristas. Dificilmente colocarão seu nome em uma enciclopédia das antigas, opinativa como um dos nossos maiores ficcionistas. No entanto, ele criou a mais perfeita e completa galeria de tipos humanos brasileiros autenticamente brasileiros, unicamente brasileiros, só existentes no Brasil da ficção nacional."
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