Byron Kim trabalha junto a um dos voluntários que contribuíram com a obra| Foto: Marvin Joseph/The Washington Post

Byron Kim se agachou sobre uma pequena lona desenrolada no meio do átrio do prédio leste da Galeria Nacional de Arte dos EUA, estudando a cor da pele da zeladora da galeria, Leora Wilson, ao lado de uma mescla de tinta a óleo que ele preparou para ser idêntica à sua cor.

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Então, o artista, que é descendente de coreanos, passou para o diretor de conservação de pinturas, Jay Krueger, a preparadora Joan Ganzevoort e a educadora Deirdre Palmer. Kim ficou cerca de 30 minutos com cada um dos 10 modelos, criando uma “pintura de pele” para sua obra em andamento, “Synecdoche” [Sinédoque].

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Uma revisita moderna à arte do retrato, sua obra explora o sentido do retrato individual e coletivo, bem como questões de raça, representação e identidade. O título parte de uma figura de linguagem em que uma parte representa o todo e vice-versa.

A Galeria Nacional de Arte adquiriu a obra em 2009, e ela esteve em exposição no prédio leste até ele ser fechado para reformas em 2013. Pouco depois disso, Kim e a curadora da seção de arte contemporânea Molly Donovan começaram a discutir a possibilidade de expandir a obra antes que ela voltasse aos olhos do público na primavera. Kim adorou a ideia, mas acabou procrastinando.

Então Donald Trump foi eleito presidente.

“Esta obra passou a reconhecer um tipo de inclusividade, que eu não esperava quando a criei a princípio”, disse Kim, de 55 anos. “É muito importante manter em mente essa ideia de incluirmos a todos, especialmente agora”.

A obra consiste em 400 painéis, cada um tendo 20 por 25 centímetros, numa referência ao retrato fotográfico típico, que representam o tom de pele de estranhos, de amigos, de outros artistas e do próprio Kim. Funcionários da Galeria Nacional, muitos com conexões diretas à obra, se voluntariaram para posar.

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“Foi incrível, eu fiquei hipnotizada pelo modo como ele trabalhava com as cores”, disse Palmer, educadora do museu, antes de listar os pigmentos – azul, verde, amarelo, um toque de preto e um pouco de lavanda – que ele misturou.

Modernismo

A primeira vez que Kim concebeu essa obra foi em 1991 e deu uma palha dela na Bienal de Whitney de 1993. “Eu estava transmitindo uma mensagem sobre o modernismo”, disse Kim, lembrando de seus origens, 26 anos atrás.

Sentado em cima dos joelhos sobre um bloco de yoga, Kim misturava as tintas na paleta com sua faca, antes de aplicar um pouco a um pedaço de fita adesiva fixado no braço de cada modelo. Ele misturava, depois passava um pouco no braço do modelo e apertava os olhos para comparar, muitas vezes tirando os óculos enquanto se aproximava do braço do modelo.

Multidões se reuniam num semicírculo, e os visitantes e guardas olhavam das passarelas acima. Ninguém interrompia o artista, que papeava, num tom de voz baixo, com os modelos enquanto trabalhava. Quando ficava satisfeito com a mistura, ele guardava a tinta num embrulho de papel e escrevia o nome do modelo nele. Ele irá pintar dois painéis de cada tom quando voltar ao seu estúdio em Nova York.

Donovan descreveu sua obra como um “marco” para o artista e uma parte significativa da coleção da galeria.

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“Ela trata do retrato, tanto individual quanto coletivo, e está ligada à nossa coleção de um modo muito significativo”, ela disse. “Ela toma como base os retratos da Renascença e então pula para a era moderna e para a ideia dos painéis monocromáticos e os ‘Painéis de Cor para uma Parede Grande’ de Barnett Newman e Ellsworth Kelly”.

Julie Springer, diretora dos programas para professores, usou a obra em suas aulas e ficou maravilhada de participar em sua evolução.

“É uma coisa tão poderosa”, ela disse. “Ela trata de identidade racial, e o que é a identidade racial? É tipo ‘e pluribus unum’ [em latim, ‘um a partir de muitos’, o lema dos EUA]”.

Tradução: Adriano Scandolara