Para muita gente, modificar uma obra de arte representa uma adulteração nascida na inveja e no desrespeito. Não para o paranaense Pierre Lapalu. Em homenagem ao gravurista Giovanni Battista de´Cavalieri – que, na opinião dele, foi subestimado pela história da arte –, ele abre nesta terça-feira (19) a exposição “A Sociedade Cavalieri”.
Numa brincadeira com ficção e realidade, Lapalu apresenta, primeiro, a reprodução de dez gravuras de Cavalieri, que viveu no século 16 mas não produziu de acordo com os padrões do Renascimento, que idealizava o homem.
Pelo contrário, sua série “Monstros” cria uma historiografia de seres antropomórficos que viveriam em lugares distantes como Egito e sul da África. Eles têm uma perna só, várias cabeças ou estatura diminuta, e são retratados na companhia de textos fantasiosos e detalhados sobre sua existência.
Na sequência, entra a leitura pós-moderna feita por Lapalu: ele imagina que, dada a importância da obra de Cavalieri, inúmeros artistas da posteridade teriam seguido seus passos na arte, criando gravuras assemelhadas esteticamente a sua série “Monstros”.
Chama a atenção o nome de artistas muito mais conhecidos que Cavalieri: Goya, Rembrandt, Kirchner, que teriam integrado uma “sociedade” ao longo de séculos, alcançando a modernidade do século 20. Só que nada disso existiu: Lapalu alterou gravuras existentes desses artistas para que tivessem relação com a obra de Cavalieri.
A gravura de Rembrandt, por exemplo, trazia um profeta com um leão aos pés. Na versão de Lapalu, o profeta tem cabeça de leão.
A Sociedade Cavalieri
Caixa Cultural – Térreo (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Abertura dia 19 às18h30 com visita guiada. Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h. Domingo, das 10h às 19h. Até 28 de fevereiro. Entrada franca. Classificação indicativa: livre. Veja no Guia.
“Quem já viu uma gravura percebe que isso aqui é Photoshop”, zomba Lapalu, diante da repórter com cara de paisagem (ela acreditou na história durante 10 minutos).
Supõe-se que boa parte do público também embarcará na invenção – talvez até saindo da galeria plenamente convicta de que existiu uma Sociedade Cavalieri.
Isso porque as marcas que revelam a brincadeira são bastante sutis. Há duas placas com os créditos da exposição: uma com personagens de Jorge Luis Borges, outra real. Um pequeno selo diz “Esta é uma obra de ficção”. O catálogo traz, lá para o final, a mesma revelação. Mas o principal indício está ligado à literatura: o curador da exposição é creditado como Pierre Menard, numa alusão ao conto “Pierre Menard, Autor do Quixote”, do livro “Ficções” de Borges – a obra, aliás, é obrigatória para quem se interessa pelo tema da adaptação e apropriação na arte.
A mesma exposição foi apresentada em Curitiba em 2013 durante a Bienal Internacional de artes da cidade. Depois, circulou pelo país, causando certo furor.
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