Gravura de Rembrandt retrabalhada por Lapalu.| Foto: Pierre Lapalu/Divulgação

Para muita gente, modificar uma obra de arte representa uma adulteração nascida na inveja e no desrespeito. Não para o paranaense Pierre Lapalu. Em homenagem ao gravurista Giovanni Battista de´Cavalieri – que, na opinião dele, foi subestimado pela história da arte –, ele abre nesta terça-feira (19) a exposição “A Sociedade Cavalieri”.

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Numa brincadeira com ficção e realidade, Lapalu apresenta, primeiro, a reprodução de dez gravuras de Cavalieri, que viveu no século 16 mas não produziu de acordo com os padrões do Renascimento, que idealizava o homem.

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Trabalho de Pierre Lapalu sobre obra do Príncipe Rupert do Reno.
Trabalho de Pierre Lapalu sobre obra de Claude Gellée.
Trabalho de Pierre Lapalu sobre obra de Anders Zorn.
Trabalho de Pierre Lapalu sobre obra de Marco Pitteri.
Trabalho de Pierre Lapalu sobre obra de Rembrandt.

Pelo contrário, sua série “Monstros” cria uma historiografia de seres antropomórficos que viveriam em lugares distantes como Egito e sul da África. Eles têm uma perna só, várias cabeças ou estatura diminuta, e são retratados na companhia de textos fantasiosos e detalhados sobre sua existência.

Na sequência, entra a leitura pós-moderna feita por Lapalu: ele imagina que, dada a importância da obra de Cavalieri, inúmeros artistas da posteridade teriam seguido seus passos na arte, criando gravuras assemelhadas esteticamente a sua série “Monstros”.

Chama a atenção o nome de artistas muito mais conhecidos que Cavalieri: Goya, Rembrandt, Kirchner, que teriam integrado uma “sociedade” ao longo de séculos, alcançando a modernidade do século 20. Só que nada disso existiu: Lapalu alterou gravuras existentes desses artistas para que tivessem relação com a obra de Cavalieri.

A gravura de Rembrandt, por exemplo, trazia um profeta com um leão aos pés. Na versão de Lapalu, o profeta tem cabeça de leão.

A Sociedade Cavalieri

Caixa Cultural – Térreo (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Abertura dia 19 às18h30 com visita guiada. Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h. Domingo, das 10h às 19h. Até 28 de fevereiro. Entrada franca. Classificação indicativa: livre. Veja no Guia.

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“Quem já viu uma gravura percebe que isso aqui é Photoshop”, zomba Lapalu, diante da repórter com cara de paisagem (ela acreditou na história durante 10 minutos).

Supõe-se que boa parte do público também embarcará na invenção – talvez até saindo da galeria plenamente convicta de que existiu uma Sociedade Cavalieri.

Isso porque as marcas que revelam a brincadeira são bastante sutis. Há duas placas com os créditos da exposição: uma com personagens de Jorge Luis Borges, outra real. Um pequeno selo diz “Esta é uma obra de ficção”. O catálogo traz, lá para o final, a mesma revelação. Mas o principal indício está ligado à literatura: o curador da exposição é creditado como Pierre Menard, numa alusão ao conto “Pierre Menard, Autor do Quixote”, do livro “Ficções” de Borges – a obra, aliás, é obrigatória para quem se interessa pelo tema da adaptação e apropriação na arte.

A mesma exposição foi apresentada em Curitiba em 2013 durante a Bienal Internacional de artes da cidade. Depois, circulou pelo país, causando certo furor.