O leilão da massa falida do Banco Santos realizado nesta terça-feira (22), teve um resultado além da expectativa do leiloeiro Aloísio Cravo, que, mesmo antes de iniciado o pregão, já tinha garantia de venda das principais peças. Feito parcialmente às escuras, por queda de energia no Hotel Unique, o leilão também foi interrompido duas vezes por problemas da internet, que caiu duas vezes, atrapalhando o pregão, que rendeu R$ 11, 8 milhões (a expectativa era de R$ 8 milhões).
Foram vendidos 138 dos 213 lotes anunciados, sendo retirado do pregão o lote 181, uma peça em terracota da dinastia Tang (581-618 d.C). Os lotes que não foram vendidos voltam para a massa falida do Banco Santos.
A instituição faliu em 2005, após a descoberta de fraudes que provocaram um rombo de quase R$ 3,5 milhões.O banqueiro Edemar Cid Ferreira, proprietário do acervo leiloado, foi condenado em 2006 por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No ano passado, porém, a Justiça Federal anulou o julgamento.
A peça que obteve o maior valor no leilão foi uma escultura do artista modernista Victor Brecheret da década de 1930, Vestal Reclinada com Pássaro, peça em granito que ultrapassou mais de duas vezes o valor do lance inicial, sendo vendida por R$ 2,7 milhões. As esculturas de grande porte foram muito disputadas no leilão. Uma escultura em ferro do artista mineiro Amilcar de Castro com 4 metros de altura alcançou o valor de R$ 1,5 milhão (o lance inicial era de R$ 220 mil).
Tunga, morto em junho deste ano, foi disputado por colecionadores importantes. Sua instalação Tríade Trindade, grande sinos em ferro, cujo lance inicial era de R$ 440 mil, foi vendida por R$ 779 mil. Brecheret teve outra peça menor (Boi Zebu) vendida por R$ 340 mil, um pouco menos que uma escultura de Frrans Weissmann (R$ 500 mil) e um pouco acima de outro modernista, Bruno Giorgi, cuja peça foi vendida por R$ 285 mil.
Entre os pintores, destacaram-se as obras de Tomie Ohtake, Antonio Manuel e Jorge Guinle. Duas telas de Tomie foram vendidas por preços superiores a R$ 340 mil. O contemporâneo Antonio Manuel alcançou R$ 220 mil por uma pintura construtivista, valor um pouco acima de outro pintor disputado no leilão, Jorge Guinle (190 mil).
Uma pintura de Djanira, que será homenageada pelo Centro Cultural dos Correios com uma retrospectiva, foi vendida por quatro vezes o valor do lance inicial, fixado em R$ 40 mil. Sua tela Menina no Sofá, muito disputada, tanto por colecionadores presentes como por lances na internet, foi arrematada por R$ 165 mil. Na mesma faixa estava um óleo de Bonadei, vendido por R$ 130 mil, mesma faixa das obras de Nelson Leirner. Sua obra Figurativismo Abstrato foi arrematada por R$ 135 mil, cinco vezes o lance inicial, enquanto o trabalho em técnica mista Ready Made - Você Faz Parte II, alcançou R$ 150 mil.
Fotografias de grandes mestres como Cartier-Bresson, Robert Doisneau e Richard Avedon não conseguiram ir muito além do lance inicial. Em parte, isso se deve ao número de cópias, caso das cinco imagens da atriz Marilyn Monroe registradas por Avedon, cujo lance inicial era de R$ 30 mil. Man Ray teve melhor sorte. Sua foto Mode, com lance inicial de R$ 5,5 mil, alcançou R$ 19 mil.
Também as obras de arte tribal africana da coleção que pertenceu ao banqueiro Edemar Cid Ferreira não foram além dos valores dos lances iniciais, excetuando o lote 121 (Grande Máscara), que partiu de R$ 2,5 mil e chegou a R$ 17 mil.
Um pintor que está em alta no mercado, o falecido Wesley Duke Lee, foi representado no leilão por um desenho avaliado em R$ 25 mil e que foi arrematado por R$ 83 mil.
Quanto aos móveis da massa falida do Banco Santos, a disputada não foi acirrada, a não ser por uma cadeira do arquiteto Oscar Niemeyer, que foi arrematada por R$ 60 mil.