Com obras repletas de símbolos, paisagens e sutilezas, a exposição “Ukiyo-e, Obras-primas de Hokusai e Hiroshige” , que abre ao público a partir deste sábado (20) no Museu Oscar Niemeyer (MON), é um convite para mergulhar na cultura japonesa, e descobrir suas minúcias.
Os 70 trabalhos são do Museu de Arte Fuji de Tóquio – é a primeira vez que a instituição sai do país com essa quantidade de obras. Curitiba, aliás, é a única cidade do mundo a ver o conjunto este ano: por questões de conservação, elas podem ficar expostas somente por 60 dias.
As xilogravuras, ou ukiyo-e, foram desenvolvidas durante o período Edo (1603-1868) no Japão. “As obras foram escolhidas a dedo para vir ao Brasil. E, ao ver os trabalhos, os brasileiros vão poder descobrir novas facetas do Japão”, diz o curador-chefe do Museu Arte Fuji, Ken-ichi Hirano.
As obras foram divididas por cidades (como Tóquio, Osaka e Kyoto), e por temáticas, mas o retrato, basicamente, é do cotidiano.
Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Terça-feira a domingo, das 10h às 18h. R$ 6 e R$ 3. Até 2 de agosto. Mais informações no Guia.
Na série “53 estações de Tokaido”, Hiroshige retratou o caminho que leva de Tóquio a Kyoto – são 13 obras, entre elas, “Neve Noturna em Kambarai” (1833). “Você sente a tranquilidade da neve, pelo tom monocromático. Os japoneses gostam muito dessa obra”, diz Hirano.
A simbologia e as lendas também encantam: vemos a “pedra que chora” no meio das 53 estações, considerada “mal-assombrada”: diz a fábula que uma mulher morreu no caminho e seu espírito ficou “morando” na rocha.
O curador também conta sobre o desenho das garças, presente em muitas xilogravuras: no Japão, elas significam longevidade e felicidade.
Ukiyo-e
A técnica japonesa tem os mesmos preceitos da xilogravura (que usa a madeira como matriz), permitindo a reprodução da imagem gravada. A diferença no ukiyo-e são os detalhes: mais de um profissional se envolve para fazer uma obra. Geralmente, eles treinam por anos com seu mestre, e costumam seguir o estilo.
Há ainda o retrato de vários atores de Kabuki – as gravuras serviam para divulgar as peças – e de mulheres: elas aparecem no trabalho mais antigo da exposição “Mulheres em uma Sala”, de 1789, de Katsukawa Shunsho.
A excelência técnica é outra marca do ukiyo-e, que inspirou mestres impressionistas como Vincent van Gogh, Claude Monet e Edgar Degas.
Para se fazer uma obra, é necessário o trabalho de quatro artistas: um desenhista, um entalhador, o impressor e o editor ( uma parte da exposição mostra todo o processo ).
“Um entalhador, para conseguir fazer o trabalho de forma satisfatória, precisa de um treino de cerca de 10 anos”, explica Toshio Koganemaru, curador do Museu Fuji.
Ele ressalta os detalhes das xilogravuras: podemos ver com clareza a raiz dos fios de cabelo e os detalhes do rosto. “Isso mostra o quão hábil é o entalhe.”
Busca
Os artistas também são exigentes: além da tradição de seguir o estilo de seu mestre, há sempre uma busca pela melhora. “Eles passam sentimentos, por isso, são tão perfeitos”, diz Koganemaru. Segundo ele, em Tóquio, somente 50 artistas fazem o ukiyo-e tradicional atualmente.
Série imperdível da exposição, “36 vistas do Monte Fuji” reúne trabalhos em Hokusai que mostram a beleza de um dos maiores símbolos do país (para o MON, vieram 15 obras), e é uma das mais conhecidas do mundo.
“O Monte Fuji é maravilhoso, de uma beleza ímpar. Eu mesmo, escolhi minha casa porque consigo vê-lo. É até difícil descrever em palavras a sua grandiosidade”, diz Hirano.
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