A Rua Guaicurus – uma espécie de “boca do lixo” belo-horizontina – sempre despertou a curiosidade da fotógrafa Laura de Avelar Fonseca. Usando a fotografia como pretexto para conhecer a região, um famoso ponto de prostituição da capital mineira, ela começou, no fim de 2011, o projeto “Hotel Esplêndido”, que retrata o cotidiano do local. A mostra, que chega a Curitiba na quarta-feira (29) no Museu Municipal de Arte (MuMa) – Portão Cultural, foi contemplado no 16.º Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, um dos mais reconhecidos da área.
As fotografias – todas dípticos e trípticos – retratam as mulheres e seu ambiente de trabalho, que são os quartos de hotéis da rua. Laura, que no começo das incursões ia acompanhada de fotógrafos homens ou do irmão, foi ganhando confiança das mulheres com o tempo. “No começo, foi na cara dura, de porta em porta, e com muito não. Mas, aos poucos, fui explicando para elas o propósito, e as coisas foram fluindo”.
Confira algumas imagens da mostra
A intenção do que Laura define como o “deslocamento” dessas mulheres ao museu busca reduzir o estigma sobre a prostituição. “Existe um ser humano que vai muito além. Elas são iguais a uma fotógrafa, uma jornalista, mas carregam muito julgamento. Há opiniões muito supérfluas sobre o tema”, acredita.
Exposição
Museu Municipal de Arte – Portão Cultural (Av. República Argentina, 3.400), (41) 3321-3275. Inauguração quarta-feira (29), às 19h30. Para participar da oficina Poética das Bordas, no dia 30, é necessário se inscrever pelo e-mail ecm2@ecm2art.com.br. Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 19 horas. Entrada franca. Classificação indicativa: 18 anos. Em cartaz até 30 de agosto. Mais informações no Guia.
Para desmistificar esses julgamentos, ela e o curador do projeto, o artista Scott MacLeay buscaram mostrar que a exposição trata das mulheres, e que só a prostituição não as define. Por isso, eles incluíram na exposição o áudio de entrevistas realizadas pela fotógrafa.
“As fotos humanizam, mas, com o áudio, a gente chega nelas, a prostituição é só uma faceta”, acredita Laura. Família, tempo livre reformas da casa e dívidas são alguns dos assuntos tratados. Essa proximidade ajudou a artista a entender o perfil das mulheres que se prostituem: muitas começam na atividade mais velhas, após os 50 anos, pela dificuldade de se inserir no mercado de trabalho formal. Uma das histórias que mais comoveu Laura foi de uma professora estadual demitida. “Ela foi para um barraco humilde e os filhos sumiram. Hoje, ela se prostitui e está com uma super casa. E aí os filhos voltaram”.
Na quinta-feira (30), Laura e o curador realizam a oficina Poética das Bodas, com uma visita guiada e conversa, das 16h às 18 horas (veja detalhes no serviço). A classificação indicativa de “Hotel Esplêndido” é de 18 anos.
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