Não é preciso ir até os grandes museus do mundo – como o Louvre, em Paris – para ver pessoas se acotovelando diante de uma obra de arte.
Em Curitiba, nos últimos anos, tivemos vários fenômenos de visitação, como a mostra sobre o holandês M.C Escher, em que os espectadores aguardavam em filas para interagir com as instalações. Ou a das fotografias de Frida Kahlo: às vezes, era necessário aguardar em média uma hora só para entrar no Museu Oscar Niemeyer (MON), que trouxe a exposição em julho do ano passado.
No que diz respeito ao público, dá para afirmar que os museus vivem um bom momento no país. Várias instituições registram aumento de visitação ano a ano.
Visite
De fotografia à mosaico, escolhemos cinco exposições em cartaz na cidade que valem um passeio mais demorado pelas obras
Isolde Hötte – Sua Obra
A trajetória da pintora e ceramista paranaense está reunida em uma sala única (de Referência do Acervo e Ação Educativa) no Museu Oscar Niemeyer. Discípula de Alfredo Andersen, há várias pesquisas acadêmicas sobre Isolde, mas ela não costumava expor e sua obra permaneceu no anonimato durante muito tempo.
Nossa Senhora
As obras, de Mauro Dacol, se centram no desenho de uma mãe que jamais abandona seu filho, e são produzidas com uma técnica de mosaico contemporâneo, e podem ser vistas no Museu de Arte Sacra de Curitiba. É uma boa oportunidade para conhecer o inusitado museu, que fica anexo à Igreja da Ordem.
Desenho de Cabeceira
Desenhos em nanquim de Dach, cuja temática traz suas próprias vivências, é uma das exposições do Museu da Gravura. Se der tempo, aproveite as outras mostras em cartaz como Livros de Artista – Espaços Moventes, com as publicações de arte que fazem parte do acervo do espaço, além de uma reunião de desenhos da Gibiteca de Curitiba.
A Fotografia no Acervo do MAC/PR
João Urban , Nego Miranda, Juliana Stein e Vilma Slomp são alguns nomes da mostra do Museu de Arte Contemporânea, que apresenta diversas fotografias – a coleção no segmento começou a ser reunida pelo MAC nos anos 1980. Além do acervo rico, o museu fez uma sala em homenagem ao fotógrafo Macaxeira. Morto no último dia 10, ele havia doado ao museu cinco obras.
Rimon Guimarães
Expoente da street art brasileira fica até junho na Farol Galeria de Arte, espaço nos fundos da Bicicletaria Cultural. Quadros, fotografias e desenhos fazem parte da seleção.
No MON, por exemplo, houve um crescimento de 48% nos primeiros três meses de 2015, em relação ao ano passado. “O museu foi descoberto. Agora, surge uma outra questão. A de você sentir e observar mais o museu”, diz Estela Sandrini, diretora cultural do MON.
Como fazer isso? Primeiro, é necessário disposição. “Se há uma obra na parede, é preciso se deter diante dela, olhar por um tempo. Se for uma escultura, a circunde, observe os detalhes.Vá com a mente aberta para se debruçar num trabalho de arte”, diz Ana González, coordenadora do Museu da Gravura.
“Leia os textos”, frisa Ana. Parece básico, mas às vezes, na ânsia de visitar tudo que está em cartaz, deixamos o mais importante, o contexto, de lado. Por isso, é salutar selecionar. Com exceção de viagens (onde o tempo é mais curto), tente escolher só uma exposição para ver, sugere Estela. “As mostras costumam ficar meses em cartaz, então você tem essa oportunidade. Também traga alguém para conversar e trocar ideias. Isso é muito rico.”
E não tenha medo das próprias impressões, tampouco receio de entrar em um museu. “O juízo que você fizer daquela obra é seu. Ninguém é obrigado a ter um juízo favorável só porque se trata de arte. Não é porque aqueles trabalhos estão em um museu que eles são todos maravilhosos, ou todos ruins”, diz Ana. Mas, segundo ela, é importante ter em mente que a arte não é entretenimento. “É algo maior. Um dispositivo que possibilita outras visões de mundo.”
O limite de obras vistas em um dia, comentado por Estela, é um dos pontos fundamentais para aproveitar melhor um museu, ressalta o crítico José Roberto Teixeira Leite. “Fruir é ter paciência de esperar a obra de arte se conectar com você”, diz.
Teixeira relembra um episódio em que esteve com um colecionador de arte em Lima, no Peru, que lhe mostrou quatro obras. “Perguntei: você não tem mais nada? E ele respondeu [questionando] se conseguiríamos ver mais que aquilo. E ele tinha razão.”
Silêncio!
Para o crítico, o museu tem um paradoxo: apresenta uma quantidade enorme de obras, “e uma atrapalha a outra”. “Por isso, tem que escolher, e não bancar o turista japonês e chinês que passa três minutos numa sala.”
Teixeira Leite faz uma analogia entre restaurante e museu: é impossível ir num restaurante e pedir o cardápio todo. “No museu, é a mesma coisa.” Ficar concentrado e quieto também ajuda. “Silêncio. É preciso ficar em silêncio para contemplar. Isso faz com que as reflexões aconteçam por si mesmas.”
Pesquise. Ou não
“Uma coisa que faço e recomendo é pesquisar previamente sobre a exposição. Quanto mais informado você for, melhor”, diz Fernando Severo, diretor do Museu da Imagem e do Som do Paraná. Porém, ele não descarta a experiência pura, de ir sem saber o que verá.
“Certas obras me chamam muita atenção, e depois vou buscar mais informações sobre ela. As duas experiências são válidas. O que não pode é condicionar que se frua uma exposição de uma só maneira”, explica Severo.
O artista plástico José Antonio de Lima, que considera suas visitas a museus pelo mundo uma parte fundamental de sua formação, sugere que os turistas incluam ao menos um espaço museológico em seus roteiros de viagem. “Dependendo do caso, é bom ver o que está acontecendo na cidade antes de viajar. Às vezes, tem algo imperdível que é bom comprar até ingresso antecipadamente, para poder ver sossegado”, diz. Ansiedade não ajuda: melhor escolher uma seção. “Senão é um desperdício de energia. Ficamos muito cansados e não aproveitamos.” O que não pode, diz ele, é deixar de ir. “O museu completa a vida da gente. Ver grandes obras influencia nosso espírito, traz um amadurecimento. Acho importante.”
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