Retta e seu monociclo, parte da exposição: obras são poucas, mas representam a totalidade do artista.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Os passos da bota do artista plástico Luiz Carlos Rettamozo fazem ranger o chão de tábua na sala no Solar do Barão. Acocorado como um índio, ele aproxima os ouvidos e a grande barba branca do tablado e pergunta: “Tá ouvindo as vozes? Sempre teve muito fantasma nesta casa”, brinca.

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Ao lado da companheira de muitas décadas, a artista plástica Denise Roman, Retta, como é mais conhecido, acompanhava na manhã de terça-feira (14) a montagem da exposição “Quem Tem Q.I., Vai”, uma retrospectiva com parte de sua obra gráfica que abre nesta quinta-feira (16).

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O título da mostra é criação dele e do artista gráfico Solda, quando ambos dividiam o trabalho de criação nas principais agências de publicidade curitibanas nas décadas de 1970 e 1980.A maior parte das peças selecionadas pelo próprio artista a pedido do Museu da Gravura também foram produzidas nesta mesma época.

Com algumas das peças em mãos, Retta tenta lembrar de como as compôs. “Acho que eu fazia enquanto trabalhava na agência. Nos intervalos. Descansava quebrando pedra”, recorda.

“Quem Tem Q.I., Vai”

Solar do Barão (R. Presidente Carlos Cavalcanti, 5, Largo da Ordem). Abertura quinta-feira (16), às 19h30. Até 13 de setembro. Entrada gratuita.

Esta é a primeira exposição pública de Retta depois que o artista sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em janeiro deste ano. Um susto que o levou a ficar quatro dias internado em um hospital. “Fiquei admirado com como a ciência evoluiu, o que estes caras [os médicos] sabem”, disse.

O AVC não estragou seu humor peculiar. Aparentemente, também não afetou a surpreendente agilidade corporal.

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Denise Roman garante que o companheiro tem sido um paciente dedicado nos tratamentos com fisioterapeutas e com fonoaudiólogos.

Preguiça

Segundo o próprio artista, no entanto, o evento teve consequências que afetaram diretamente a produção artística.

“Em primeiro lugar, eu fiquei muito preguiçoso”, confessa. “O que bagunçou foi a memória. Eu não me lembro de quase nada. Às vezes quando vão me contando as coisas, eu vou lembrando, mas no geral é nada”, admite Rettamozo.

A “reconfiguração”, porém, não o abala. “É bom, me dá liberdade. Eu posso fazer qualquer coisa. Tenho que me reconstruir”, explica.

Retta

Luiz Carlos Ajalla Rettamozo, o Retta, nasceu em São Borja (RS), mas vive em Curitiba desde o início dos anos 1970. Artista plástico, poeta, performer, compositor e publicitário, trabalhou como diretor de arte em agências de publicidade e criou jingles e marcas históricas como o logotipo do colégio Positivo. Nas artes plásticas, ganhou vários prêmios importantes. Participou da Bienal de São Paulo e tem obras no acervo do Museu Oscar Niemeyer.

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Envelope

A exposição reúne algumas de suas obras mais premiadas, como o quadro sem nome, dono do primeiro lugar no Salão Paranaense de 2014; ou a série de gravuras “15 Batatas Antes do Jantar”.

Para Ana Gonzáles, coordenadora do Museu da Gravura, a exposição, ainda que “com poucas obras, é preciosa, pois agrupa todas as formas de expressão que tornaram este artista tão grande”.

A obra de maior destaque é o melhor exemplo da mistura de linguagens que caracteriza a criação de Rettamozo.

Na peça clássica que data do início da década de 1980, Retta é retratado dentro do quadro de uma fotografia na cidade de Morretes, à beira do rio Nhundiaquara, dobrando as pontas do papel até se fechar dentro do envelope por ele mesmo criado. “Pela forma/ ou pela forma/ o homem/ re-trans/ f-torna”, escreve ele, como uma espécie de legenda.

“Conseguimos reunir peças que contêm a mistura de texto, de poesia com imagem, meios gráficos como pintura e gravura, e também mensagem publicitária, performance e humor. Tudo isso junto é o Retta”, conclui Ana.

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