Fica em cartaz até 28 de junho, no Rio de Janeiro, a primeira retrospectiva no Brasil da obra de William Eggleston, um dos maiores nomes da fotografia do século 20.
A mostra, divulgada como a maior exposição individual do artista americano no mundo e um dos maiores projetos do Instituto Moreira Salles (IMS) em 2015, reúne 172 fotografias de Eggleston na casa do bairro carioca da Gávea – incluindo boa parte das que foram exibidas pelo Museu de Arte Moderna (MoMA) em Nova York, em 1976, que marcou uma virada na carreira do fotógrafo.
Era uma época em que vigorava um desprezo pela cor na fotografia de arte. Mas o elemento seria, justamente, uma das principais marcas do fotógrafo americano.
Dye transfer
É um processo de impressão fotográfica usado na publicidade dos anos 1950 e 1960 que resulta em cores muito vivas. A técnica, aliada à linguagem de Eggleston, foi fundamental para o estilo do fotógrafo. Uma de suas imagens mais famosas, “The Red Ceiling”, é um exemplo do uso do processo.
Pormenores
As cores das imagens da mostra do IMS-RJ, produzidas por meio do dye transfer, de fato saltam aos olhos. Mas o afeto das fotografias de Eggleston tem tanta força quanto o vermelho à Matisse na famosa “The Red Ceiling” (1973), presente em uma das quatro salas da exposição.
Influências
Visto com desconfiança por seu estilo intuitivo, seus temas prosaicos e pelo uso da cor, desassociada à fotografia de arte até os anos 1970, Eggleston acabou se tornando referência não apenas na fotografia como também no cinema. Nomes como Wim Wenders e David Lynch já se declararam influenciados por ele.
A fotografia, feita em uma das viagens do artista ao Mississippi, é um exemplo da atenção aos pormenores, da objeção ao monumental e da visão “democrática” que permitiu registrar o americano comum em cenas prosaicas – como na série Los Alamos.
Um exemplo é a explicação de Eggleston sobre a fotografia de uma senhora retratada em frente a uma parede multicolorida em Memphis. A parede foi um acaso: o que realmente chamou a atenção do artista foram as roupas da retratada, suas unhas combinando com a cor do tecido.
Anos depois, registros como esse ganham força e significado ao mostrar miudezas de uma sociedade em transformação e, com ambiguidade e delicadeza, colocar o fascínio do consumo ao lado da decadência, do ceticismo em relação ao futuro – elementos presentes no imaginário da época, conforme lembram os textos que acompanham a mostra (que tem curadoria de Thyago Nogueira, editor da revista Zum e coordenador de fotografia contemporânea do IMS).
Na primeira sala da mostra, logo depois de alguns exemplares interessantes do trabalho de Eggleston em preto e branco, aparece o marco inicial do uso bem-sucedido de cores. Trata-se da foto de um rapaz empurrando carrinhos num supermercado, que o fotógrafo fez utilizando uma técnica de superexposição depois de resultados desastrosos em suas primeiras experiências com cor.
Seus quadros fechados retratam o comércio, estabelecimentos de beiras de estrada, carros, um pouco de ferrugem e de lixo. “(...) chegou um ponto (...) em que eu tive de encarar o fato de que o que eu devia fazer era sair atrás de paisagens desconhecidas. O que era novo naquela época eram os shopping centers – então eu tirei fotos deles”, diz Eggleston, em uma de suas citações na exposição.
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro (R. Marquês de São Vicente, 476), (21) 3284-7400. De terça-feira a domingo, das 11h às 20h. Entrada franca. Até 28 de junho.
Los Alamos levou quase dez anos para ficar pronta e incluiu várias viagens de Eggleston ao sul dos Estados Unidos. O trajeto passa pela terra natal do fotógrafo, o Tennessee, e revela um olhar mais contagiado pela intimidade, com cores e cortes mais serenos.
Uma das salas ainda traz os menos conhecidos retratos com câmera de grande formato feitos por Eggleston em 1974, onde também acontece uma exibição do filme experimental Stranded in Canton (“Encalhado em Cantão”), com registros íntimos de amigos do artista em noitadas nos bares de Nova Orleans entre 1973 e 1974.
Com a exposição, o IMS lançou também o catálogo homônimo com textos inéditos de nomes como David Byrne, Geoff Dyer e o crítico de arte Richard Woodward.
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