O academicismo formal triunfou como era esperado. Em uma cerimônia morna, sem momentos arrebatadores, o competente drama britânico O Discurso do Rei, de Tom Hooper, sagrou-se, na cerimônia que aconteceu anteontem, em Los Angeles, o grande campeão do Oscar 2011. Levou quatro estatuetas, nas categorias de melhor filme, direção, roteiro original e ator, para Colin Firth.
Embora a produção, indicada em 12 categorias, fosse favorita ao prêmio da Academia, apostava-se que seu maior rival, A Rede Social, tinha fortes chances de ganhar pelo menos um dos Oscars principais, o de melhor diretor, mas isso não ocorreu. Mais uma vez, o norte-americano David Fincher foi preterido. O colegiado de diretores com direito a voto preferiu reconhecer Tom Hooper, um cineasta menos experiente, oriundo da televisão (onde dirigiu as ótimas e premiadas minisséries John Adams e Elizabeth I). Hollywood perdeu a oportunidade de reconhecer o talento do criador de filmes importantes como Seven Os Sete Crimes Capitais e Zodíaco.
Coube a A Rede Social três estatuetas menos importantes, nas categorias de melhor roteiro adaptado, edição e trilha sonora. Foi ultrapassado em número de prêmios por A Origem, de Christopher Nolan, reconhecido nas categorias técnicas de melhor fotografia, efeitos visuais, edição de som e mixagem de som.
Com duas estatuetas cada, empataram Toy Story 3 (melhor longa-metragem de animação e canção original) e Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton (melhor direção de arte e figurino).
Edificante
O triunfo de O Discurso do Rei, bem mais convencional do que o longa-metragem de Fincher, era previsto. O filme parte de uma história real, mas não necessariamente respeitada integralmente pelo roteiro, e constroi uma narrativa sedutora e edificante. Conta como o rei George VI (Colin Firth), da Inglaterra, conseguiu superar a gagueira com o auxílio de um terapeuta da fala australiano (Geoffrey Rush), e acabou tendo papel fundamental como líder nacional durante a Segunda Guerra Mundial. O que o filme de Hooper omite é a simpatia que parte da família real, de origem alemã, nutria pelo regime nazista antes da eclosão do conflito em 1939.
Nas categorias de interpretação, além de Colin Firth, premiado por seu antológico desempenho como George VI, Natalie Portman confirmou seu favoritismo e deu a Cisne Negro sua única estatueta, de melhor atriz. Mereceu o Oscar por sua grande atuação como a perturbada e dilacerada bailarina clássica do longa de Darren Aronofsky.
Christian Bale e Melissa Leo, ambos por O Vencedor, também confirmaram o favoritismo nas categorias de melhores ator e atriz coadjuvantes, respectivamente.
Documentário
Único representante do Brasil no Oscar, o documentário Lixo Extraordinário (leia mais na página 3), codirigido pela britânica Lucy Walker e pelos brasileiros João Jardim e Karen Harley, perdeu para Trabalho Interno, filme de Charles Ferguson, narrado por Matt Damon, sobre a crise econômica mundial deflagrada em 2008.




