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  • Filha de Mauricio de Sousa inspirou a personagem que agora celebra 50 anos de sucesso

Não é exagero dizer que, com seus dentes protuberantes e o inconfundível vestidinho vermelho, Mônica é a personagem mais importante dos quadrinhos brasileiros. Com 50 anos de existência completados em 2013, a menina geniosa moradora do bairro do Limoeiro, entretanto, não nasceu protagonista. Inspirada em uma de suas filhas, a personagem criada por Mauricio de Sousa apareceu pela primeira vez em 1963, como coadjuvante em uma tirinha do Cebolinha, publicada no jornal Folha da Manhã, atual Folha de S.Paulo. Na época, ela foi apresentada como irmã de Zé Luis, personagem deixado de lado por Sousa com o passar do tempo, e roubou a cena com seu coelhinho de pelúcia a tiracolo. Tanto que, em 1970, quando a turminha criada por Sousa ganhou sua primeira revista em quadrinhos, foi o nome dela que estampou a capa. Se antes eram os gibis da Disney que faziam sucesso entre a garotada, com a chegada da Turma da Mônica o quadrinho nacional ganhou destaque – assim como sua protagonista.

"Ela não é apenas a mais famosa personagem do Mauricio, mas, provavelmente a mais conhecida personagem dos quadrinhos brasileiros de todos os tempos, o que já faz dela um ícone da cultura de massa", afirma o professor de Comunicação Nobu Chinen, membro do Observatório de Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e autor do livro Linguagem HQ: Conceitos Básicos (Editora Criativo).

São muitos os motivos que elevaram Mônica a este patamar. A visibilidade da personagem – e de toda sua turma – é um deles. Além dos gibis, a Turma da Mônica está presente também em livros, filmes, programas de televisão, peças de teatro e ações de merchandising. Nas bancas de revistas, os quadrinhos de Mauricio de Sousa ocupam prateleiras – são mais de cinco gibis diferentes editados mensalmente. "Você vai a uma banca e encontra muitos títulos da Mônica à venda. Se você precisa de uma leitura rápida, está ali, em qualquer lugar tem", exemplifica o coordenador do curso de pós-graduação em História em Quadrinhos, Ilustração, Publicidade e Cinema das Faculdades Opet Rodrigo Scama.

Visibilidade refletida em números impressionantes. Segundo a Mauricio de Sousa Produções (MSP), desde 1970, quando foi lançada a primeira revista, então pela editora Abril, já foram mais de um bilhão de gibis vendidos. Atualmente, a Turma da Mônica Jovem – que traz os personagens em versão adolescente – é a HQ que mais vende no Ocidente. Considerando o mundo todo, só perde para os mangás japoneses. Só da edição O Casamento da Mônica, de 2012, foram comercializadas 500 mil cópias.

Sem estereótipos

O sucesso das vendas e da longevidade da Turma da Mônica também pode ser explicado pelo cuidado dispensado por Mauricio de Sousa e sua equipe no roteiro das historinhas. Fazendo um exercício de memória, é difícil lembrar alguma polêmica que envolveu a personagem ou algum de seus colegas durante esses 50 anos. Mesmo assim, Sousa nunca deixou de incluir temas que estavam em voga, ainda que de forma leve, em seus quadrinhos.

Minorias como os índios, os sertanejos, os portadores de necessidades especiais e os homossexuais, entre outros segmentos da sociedade, ganharam personagens sem estereótipos nas histórias da Turma da Mônica. "O Mauricio trabalha de um jeito bem bacana. A personagem que é cega, por exemplo, não é ‘coitadinha’. Ela está no meio da turma, juntos com os outros", afirma Scama.

De acordo com Nobu Chinen, os temas abordados por Sousa repercutem nos quadrinhos na medida exata da aceitação do público – o que explica a leveza com a qual os assuntos são tratados – ainda que haja exceções. "Que eu me lembre, as páginas do Horácio e as histórias do Astronauta já abordavam questões relativas ao meio ambiente muito antes desse tema virar moda. E muitas aventuras de Chico Bento nem são tão discretas ao ironizar o modo de vida das cidades."

Essa característica é o que faz com que a Turma da Mônica continue a conquistar as crianças, mesmo travando uma batalha contra videogames, computadores e tablets – onde os personagens também estão presentes. Adultos e pessoas que, em geral, não são fãs de outras HQs também estão no grupo de leitores fieis. "Seus enredos normalmente tratam de temas universais ou, pelo menos, de certo grau de identificação, sempre com graça. É isso que atrai os leitores não habituais de quadrinhos: um humor saudável que pode ser compreendido por qualquer pessoa", afirma Chinen.

Visão empresarial

A reinvenção dos personagens ao longo do tempo ajuda a explicar a constante relevância da obra de Mauricio de Sousa no mercado editorial nacional. A Turma da Mônica Jovem, por exemplo, lançada em 2008 e com traços no estilo mangá, surgiu de uma necessidade de dialogar com as crianças que, cada vez mais cedo, se tornavam adolescentes. O que revela que Sousa tem, além de grande talento como cartunista e roteirista, uma visão empresarial muito aguçada desde o início. "Fala-se muito na Turma da Mônica Jovem, que promoveu alterações significativas nos personagens, mas, bem antes, a Tina já tinha passado por uma mudança radical, passando de adolescente hippie para uma ‘gata descolada’, para se adaptar a novos tempos", lembra Chinen.

Dentro de alguns anos, outra adaptação significativa da Turma deve ganhar as bancas. Está previsto para 2017 o lançamento da versão adulta de Mônica e seus amigos. A MSP, por enquanto, não divulgou mais informações a respeito, além de que o roteiro deve ser assinado por autores de novelas. Walcyr Carrasco (Gabriela) é um dos que já teria topado participar do projeto, que deve continuar a perpetuar o sucesso de Mônica por várias gerações.

Tributo

Benett, cartunista da Gazeta do Povo é um dos 50 artistas convidados a criar releituras dos personagens de Mauricio de Sousa para a série de livros MSP 50, comemorativa às cinco décadas de carreira do quadrinista

"As primeiras lembranças que tenho da Turma da Mônica são de algumas propagandas de creme dental que eu via nos gibis. Provavelmente eu nem sabia ler, mas lembro dos desenhos e ficava curioso para saber quem eram aqueles personagens. Não tinha vontade de escovar os dentes, mas tinha vontade de ler gibis. Quando aprendi a ler, obviamente devorei todos os gibis da Mônica, Cebolinha e Cascão que encontrei pela frente. Lembro de duas histórias memoráveis, "Cascão Não Quer Sabão" e "Romeu e Julieta". Meu personagem predileto era o Louco, que aparecia só de vez em quando. A grande vantagem de quem lê gibis na infância é que se aprende a falar e escrever tudo corretamente muito cedo. E a escovar os dentes também, se for uma pessoa esperta."

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