A quem pergunta sobre o que mais chama atenção na música brasileira, Björk (conheça o site da cantora) sorri e responde: "A batida". Mas aos que elogiam o seu novo disco, "Volta", por ser bem mais dançante que os anteriores, ela balança a cabeça e garante que a batida não é tudo: "To beat or not to beat: thats not the question", brinca, parafraseando Shakespeare.
O humor dessa cantora islandesa que continua na liderança da cena alternativa pós-punk é mesmo imbatível. Ela se apresenta no TIM Festival, no dia 26 de outubro, no Rio de Janeiro (e 31 em Curitiba), com o mesmo show que teve ingressos esgotados na turnê americana: um espetáculo marcado pelo repertório de "Volta", sobre o qual os críticos foram quase unânimes em afirmar que se compõe de músicas moldadas para o palco. Agora, porém, ela quer que a platéia esteja um pouco mais atenta ao som.
Sempre me dizem que minha música é muito cinematográfica. Concordo, mas o visual não pode ser mais importante do que o som. Por isso, planejo começar o show com as luzes apagadas. No escuro as pessoas vão abrir seus ouvidos, escutar melhor os sons do repertório de "Volta" diz Björk, que parece muito tímida, bem menor do que no palco, e tem o hábito de fazer gestos largos quando fala, como a reforçar o que diz.
Ela sempre olha fixo para os seus interlocutores e fala em tom muito baixo. Sabe que o título de seu disco tem, em português, o sentido de retorno. Mas não concorda com os que dizem que o novo repertório seja mais próximo de "Debut", um dos discos que deram projeção internacional ao seu nome, e que esteja retomando antigas tendências de seu estilo de composição. É firme e quase incisiva em suas opiniões, com um leve tom de ironia nos lábios pintados de vermelho, em contraste com a pele muito clara e os cabelos muito pretos.
Não estou voltando aos tempos de "Debut". Segui tendências que estão presentes na minha música. O título "Volta" me surgiu por acaso. Estava folheando um dicionário de italiano e descobri a palavra. E descobri também que era esse o sobrenome do cientista que inventou a bateria. E é também o nome de um lago artificial em Gana, na África. Meu disco tem a ver com isso, com energia, em pensar sobre como a música pode armazenar energia e se conectar com o universo, e com o que a natureza tem de artificial. Acho que a música tem esse sentido de linguagem universal e gostaria de pensar que ela serve para pensar o movimento de globalização de forma positiva. Muita gente associa a globalização à uniformização do mundo, um MacDonalds em cada esquina. Mas a globalização pode ser pensada de outro modo: unir pessoas do mundo inteiro com uma linguagem comum e pensar juntos o que nós todos podemos fazer para mudar o mundo. Esta é a nova política, que não tem a ver com essa política tradicional, e sim com as conexões entre pessoas, pela internet, pelas redes internacionais de assistência, pela arte no mundo inteiro. A minha música faz parte disso, meu show fala dessa volta ao mundo que a música permite define Björk.
Não é a primeira vez que ela visita o Brasil. Já passou um mês em Salvador, com o marido, o cineasta Matthew Barney, que filmou um desfile de carnaval, em 2005, para o longa experimental "De lama lamina". A linguagem alegórica de Barney, aliás, rendeu uma parceria cinematográfica com Björk, em "Drawing restraint 9", um delírio visual que conquistou a crítica especializada, também em 2005. Mas Björk é reticente quando se fala da possibilidade de retomar sua carreira no cinema, que conta inclusive o prêmio de melhor atriz em Cannes, por "Dançando no escuro", de Lars Von Trier. Ela garante que está numa fase intensamente sonora e que, mesmo sabendo que sua "apaixonada parceria" com Barney deu certo, prefere dar um tempo.
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