O Brasil já perdeu 12% da Amazônia para as moto-serras, teve 30% da caatinga degradada pelo mau uso do solo, viu 40% do Pantanal ser invadido pelo gado, está com 55% do cerrado tomado pelas pastagens e culturas anuais. Agora, o pior: 93% da Mata Atlântica já foi ao chão para dar lugar à expansão urbana e agrícola. Esses são nossos principais biomas, ou grandes áreas de vegetações características, fora os campos sulinos. O mais grave é que só 10,3% de tudo o que restou de pé está protegido em unidades de conservação (60 milhões de hectares federais, 25 estaduais e 3 particulares).

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Diante desse quadro de devastação, o Brasil dificilmente conseguirá cumprir a mais importante das 11 metas sugeridas em 2002 pela Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB), que prevê pelo menos 10% de cada região ecológica do mundo efetivamente conservados. A média dos remanescentes daria bem mais do que a exigência, mas está mal distribuída, diz o diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Mercadante. Mas o fato de os remanescentes estarem de pé não é garantia de preservação.

A Amazônia está acima da meta da CDB, com 11,7% de sua área protegida na forma de unidades de conservação. O caso mais crônico está no bioma caatinga, com apenas 1% de sua área protegida, seguida da Mata Atlântica (2% protegidos), do cerrado (2,2%) e do Pantanal (2,5%). Os dados dos campos sulinos ainda são pouco conhecidos. Por esses números, vê-se que o Brasil está longe de cumprir a meta de conservação da CDB para 2010. E o tempo para atingi-la fica cada vez mais curto.

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As metas serão discutidas nesta terça-feira pelos ministros do meio ambiente de 50 países, num dos eventos oficiais da 8ª Reunião da Conferência das Partes da CDB, a COP8, que as Nações Unidas realizam em Curitiba. Seguindo as recomendações à risca, no caso da Mata Atlântica o país teria não só de proteger o que ainda resta, mas também replantar os 3% que faltam para chegar aos 10%. Nos demais casos, "bastaria" criar unidades de conservação até chegar ao índice sugerido. Contudo, o Brasil vem sendo pressionado a cessar o desmatamento na Amazônia, o bioma mais rico e vulnerável do país.

Na avaliação do vice-presidente da ONG Conservação Internacional, José Maria Cardoso da Silva, para atingir a meta o Brasil precisaria fazer nos quatro anos que restam um esforço como nunca fez desde o seu descobrimento. O problema é que o país não faz idéia do tamanho de sua biodiversidade. Conforme estudo divulgado semana passada na COP8, as 200 mil espécies já registradas representam apenas 10% da quantidade estimada para o país. Outro problema é a falta de cientistas. Dos 216 taxonomistas do Brasil, metade está em São Paulo ou Rio de Janeiro, distante dos biomas brasileiros.

Também na forma de parques marinhos o país não atingirá as metas da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB). Para isso, teria de multiplicar por 25 as áreas já preservadas. O território marinho equivale a 41% do território terrestre, mas só 0,4% desse vasto patrimônio oceânico é conhecido e preservado na forma de unidades de conservação. "Quanto mais longe da costa, menos se conhece", diz o doutor, em Oceanografia Biológica, Anthony Chatwin. Ele coordena os esforços da ONG The Nature Conservancy (TNC) para preservação marinha na América do Sul.