| Foto: Wikimedia Commons/

A julgar pelas buscas no Google, a astrologia voltou à moda. A procura por “mapa astral”, que havia caído 80% entre 2005 e 2013, chegou a quadruplicar no último ano. Já o interesse por “horóscopo” quintuplicou no período entre 2011 e 2015.

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Fenômeno da web, Susan Miller é conhecida por seus horóscopos extensos e detalhados. “A astrologia sempre foi popular, mas não era aceita em conversas formais. As pessoas tiravam sarro”, diz a astróloga à reportagem. Ela recebe cerca de 9 milhões de visitantes por mês em seu site “Astrology Zone”.

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Segundo Miller e outros astrólogos ouvidos pela reportagem, as previsões individualizadas estão crescendo cada vez mais. A busca pela afirmação de uma identidade “astral” é o que explica o sucesso da astrologia entre jovens -e, agora, entre homens- nas redes sociais.

“Tem um movimento grande de individualização. Na Nike você desenha seu próprio tênis, na [grife] Burberry você coloca suas iniciais nos cachecóis. Eu escrevo ‘horóscopos pessoais’ para os leitores, com cerca de 65 páginas. Com um mapa astral, as pessoas aproveitam melhor minha coluna”, diz Miller. Ela cobra US$ 25 (cerca de R$ 93) para realizar um mapa astral simples. Já o completo sai por US$ 59. Para fazer os “horóscopos pessoais”, o cliente deve apenas informar nome completo, sexo, data, local e horário de nascimento.

No site da astróloga, 51% dos leitores são de fora dos Estados Unidos e 43% são homens, número inédito para o mercado editorial de astrologia antes da internet. “Antigamente, o único lugar em que o homem podia ver o horóscopo era o jornal, já que ficavam constrangidos de ir à banca ou na livraria só para comprar uma revista de astrologia. Agora podem acessar pela internet, e ninguém fica sabendo”, comenta Miller.

Quem pode ser astrólogo?

Desabafos, piadas com a personalidade alheia e uma grande rejeição por Áries ditam o tom da astrologia nas redes sociais. Mariana Fernandes, 26, é analista de marketing. No seu tempo livre, ela administra a página de humor “Astrologia da Depressão” (434 mil curtidas), uma das mais populares do tema no Facebook.

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“Quando entrei no Facebook, todas as páginas de astrologia eram muito técnicas. A minha página foi a primeira a falar com uma linguagem simples”, afirma Fernandes, que criou a “fanpage” em 2012. Tanto a “Astrologia da Depressão” quanto a “Astrologia Sincera” têm um público que vai dos 18 aos 25 anos, sendo que 80% é composto de mulheres.

Para Daniela Osvald Ramos, professora de jornalismo da USP que estudou o tema da astrologia on-line em seu mestrado, estamos vivendo um “boom da visão autoral da astrologia”, que favorece o humor feito por amadores nas redes sociais.

“Se está mendigando ‘bom dia’, é canceriano.” “Você pode substituir um leonino por jiló.” “Capricorniano é tão miserável que não gasta nem sentimentos.” Na página do Facebook “Astrologia Sincera” (129 mil curtidas), na qual foram escritos estes comentários, há um aviso para os recém-chegados: “Pode julgar o amiguinho pelo signo, mas sem opressão”.

“As pessoas procuram um refúgio. Pensam ‘ai, sou muito trouxa’ e acabam associando isso a um signo”, diz Octavio Gusmão, 20, estudante de letras da USP e administrador da página.

“São piadas sérias, não são desprovidas de conteúdo astrológico. Tenho que ser astrólogo para fazer piada? Não”, opina Ramos. “A astrologia marca um ciclo de passagem do tempo, de que o ser humano sempre precisou. As pessoas pensam ‘em que fase da Lua eu estou?’. Isso nunca deixou de estar presente, apesar de ser considerado fútil.”

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Para a pesquisadora, existe uma busca por arquétipos na astrologia, ou seja, uma tentativa de explicar as motivações profundas do ser humano. Uma prova disso é o fato de a astrologia ter nascido em diversas civilizações ao mesmo tempo: chineses, maias, hindus e gregos tinham formas de vincular comportamentos à movimentação dos astros.

É, portanto, uma busca por previsibilidade e de identidade. “É uma categorização das ações humanas”, diz Maria Elisabeth Costa, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), que indica que a busca por identidade individual é o que mantém a astrologia popular no mundo digital.

“Os astrólogos evitam que as pessoas se categorizem apenas pelo signo solar. Eles tentam individualizar ao máximo, com ascendente, lua, outros planetas. Já as redes sociais falam justamente de quem você é, do que você gosta, uma construção do eu”, afirma Costa.

Os astrólogos profissionais também estão procurando a internet para se organizar e divulgar os seus trabalhos. A Central Nacional de Astrologia, por exemplo, é uma entidade que “existe principalmente no virtual”, segundo o seu presidente, Leonardo Lemos.

“Descobriu-se que, por meio da astrologia, você pode fazer humor, criar histórias, fazer sátiras. Mas mesmo as páginas de astrologia clássica estão cheias de jovens”, diagnostica Lemos.

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