Cibelle (fotografada por André Coelho) passou metade deste ano e 2006 inteiro viajando, em turnê por Europa, EUA, Canadá e Ásia. Conta que ficou tão estressada no ano passado que seu cabelo, encaracolado, ficou liso, e os olhos, verdes, tornaram-se castanhos. Parece mais tranqüila neste segundo semestre de 2007, os cachos e os tons esverdeados estão no lugar. Neste período, nas poucas vezes em que veio ao Brasil, refugiou-se em Cabo Frio, onde a mãe, que a criou na capital paulista, mora hoje, ou circulou incógnita com os amigos pela noite de São Paulo e Rio. A cantora, de 29 anos, vive em Londres, num casarão em Dalston, East London, com outros seis artistas, desde 2002. Sua carreira empinou na Europa e, desde então, o epíteto de cantora-famosa-no-exterior-mas-desconhecida-por-aqui a acompanha. Talvez por pouco tempo. Em sua primeira apresentação profissional num palco brasileiro, na quarta edição do Coquetel Molotov, um dos principais festivais de música independente do país, em setembro, em Recife, os fãs não paravam de gritar seu nome. Cibelle, emocionada, terminou o show exatamente como começou: deitada.
Fui desvirginada. E ser desvirginada com quem te ama é uma delícia! compara, num dos raros momentos em que sai da pele de gatinha manhosa e veste a de onça pintada. Fiquei emocionada logo que pisei o palco. Acabei me jogando e beijando o chão, no início e no fim.
No fundo, Cibelle sabe que o show na capital pernambucana não passou de uma preliminar. O rito de passagem de verdade ainda está por vir. Será no TIM Festival (dias 26, na Marina da Glória- RJ, e 27, no Ibirapuera-SP) quando se apresentará no palco Divas, antes da canadense Feist e da americana Cat Power e depois de Katia B. Será também a primeira vez que amigos e família a verão no palco. Mesmo para quem acompanha sua carreira à distância, em gravações e fotos que chegam à internet, há expectativa sobre sua apresentação. Cibelle diz que centrará o show nas canções de seu segundo e último disco, "The shine of dried electric leaves" (lançado no ano passado), mas não abre mão dos improvisos.
Cibelle diz que quase não ensaia e que todos na banda fazem de tudo. No caso dos shows no TIM Festival, três músicos se revezarão tocando guitarra elétrica, violão, bateria, percussão. Ela se apresenta ao lado de uma mesa de som, com dois microfones: o da mão direita projeta a voz clara e o da esquerda, efeitos de voz e barulhos de brinquedos que ela carrega para o palco, como uma flauta, um megafone verde que simula um alienígena e sinos.
Gosto de misturar ao vivo, gravando e montando seqüências descreve.
No disco, o resultado dessa mistura, marcado pela voz doce e suave de Cibelle, é delicioso. Ao vivo, é um mistério, um risco. Como Cibelle parece gostar. Da performance no palco à condução da carreira, ela rejeita termos como planejamento e estratégia.
Não gosto e não acredito em estratégia de marketing. Vai contra a minha filosofia. Respeito minha arte, meu amor, minha vida. Faço turnês e pago as minhas contas. Quando não tem show, vivo no mínimo ou discoteco em algum lugar para ganhar uma grana conta Cibelle, que não abre mão de novidades high-techs e não larga seu laptop MacBook Pro, da Apple, e o celular N95, um dos mais sofisticados da Nokia. Não sei viver me estuprando.
Por isso, Cibelle se sente muito à vontade convivendo com artistas como Devendra Banhart, CocoRosie e Vetiver, no circuito Inglaterra-França-EUA, ou em São Paulo, com os amigos Rick Castro, artista plástico, e Dudu Bertholini, estilista e produtor de moda. Todos independentes e alternativos de carteirinha. Cibelle mantém os ouvidos abertos para suas contemporâneas, como Feist ("O novo disco é lindo"), Björk ("Ela é incrível, uma artista plástica, faz poesia concreta com som"), Bebel Gilberto ("Achei o novo disco doce, bacana"), Céu ("Tem voz lindíssima") e Vanessa da Mata ("Amo irremediavelmente, arrasou com esse último disco"). Também adora o cearense Cidadão Instigado e o pernambucano Junio Barreto, que recentemente gravou uma música para seu toque de celular.
Deixe sua opinião