A diva da ópera Maria Callas, altamente volátil em seu talento e em seu temperamento, deixou entrever em uma série de cartas até que ponto suas palavras escritas eram tão mordazes quanto as que ela falava em público.

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As cartas em tom cáustico que serão postas à venda em 30 de novembro pela casa de leilões Christie's, em Londres, mostram que as brigas públicas de Callas com suas rivais e com a direção do Metropolitan Opera (o Met), em Nova York, se estendiam também a sua correspondência privada.

- Isto é Callas mostrando plenamente seu lado diva - disse à Reuters na terça-feira o especialista em manuscritos da Christie's, Thomas Venning.

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Em uma carta de 2 de novembro de 1958, endereçada a Rudolf Bing, o administrador do Met, ela pergunta: "Você faz julgamentos com o cérebro de algum pequeno imbecil ou com o seu?".

A mesma carta conclui em tom profético: "Sua importante organização e eu não trabalhamos com base nos mesmos princípios, e assim será melhor que cada um siga seu próprio caminho...".

Bing anunciou que estava demitindo Callas quatro dias depois, quando ela estava prestes a subir ao palco em "Medéia".

Movida pela indignação e o ultraje - apesar do fato de ela ter tramado justamente para esse fim -, Callas acabou apresentando uma performance que foi aclamada como uma das maiores de sua vida.

Pouco afeita à modéstia, ela explicou o virtuosismo da apresentação a um jornalista, dizendo: "Não faço rotinas. Minha voz não é elevador."

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Em outra carta, Callas, a maior soprano de sua geração, cantora vista como responsável pelo renascimento do "bel canto" italiano, explicou por que desprezava o novo meio de comunicação de massas que era a televisão.

"Odeio ópera naquela telinha feita por pessoas destituídas de gosto", ela escreveu em maio de 1956.

Venning disse que as cartas são singulares porque indicam até que ponto uma estrela estava disposta a ir para proteger sua carreira.

- Elas mostram o excesso de autoconfiança que acompanha uma insegurança profunda - disse ela. - Callas se mostra áspera, defensiva, agressiva e movida pela paixão.

Outras cartas que fazem parte da coleção que será leiloada revelam a rivalidade intensa entre Callas e Renata Tebaldi, uma antipatia que as duas cantoras afirmavam em público ter sido inventada pela imprensa.

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Célebre por sua atitude autocrítica, Callas, que morreu em 1977 aos 53 anos, em uma ocasião viajou de primeira classe, enquanto seu marido, que também era seu empresário, a acompanhou na classe turística.

Perguntada por um jornalista sobre esse arranjo esdrúxulo, ela respondeu: "Se os nojentos (do Met) não querem pagar para que ele viaje de primeira classe, eu também não vou. De qualquer maneira, sempre peço uma segunda porção de tudo o que eu como e bebo, coloco num saquinho de mal-estar e mando a aeromoça levar para ele."