Em dois teatros, no mês e abril, muita gente se irritou com os maus modos dos colegas de plateia. No Guairão, quem queria apreciar o trabalho de Tarcísio Meira como um velho ator em crise (“O camareiro”) precisou abstrair o mar de luzes de tela de celular em uso para comunicação, fotos e vídeos. O teatro divulgou um texto, no dia seguinte, lembrando as regras de suas salas.
“A luz destes aparelhos incomoda muito quem está sentado ao lado ou atrás. E o flash tem alcance máximo de dois metros. Portanto, não é eficiente, mas atrapalha quem está no palco”, lembra a nota.
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A atriz Rosana Stavis estava na plateia e conta ter-se incomodado muito. “As pessoas tiravam fotos para postar na hora, ou seja, não estavam nem assistindo”, reclama.
Enquanto isso, num Fernanda Montenegro quase lotado para ver Carolina Ferraz na excelente “Três dias de chuva”, o intervalo foi a deixa para muita gente correr à bombonière do cinema logo em frente (no subsolo do Shopping Novo Batel) e voltar abastecida para 40 minutos de roeção e muito barulho no manuseio dos pacotes de papel.
Questionada, a administração informou que só permite pipoca em espetáculos infantis e que irá colocar mais rigor no controle.
Se o mal comportamento atrapalha a plateia, os atores não passam ilesos no palco. A mesma Rosana Stavis já chegou a interromper a peça “Lulu ou a caixa de Pandora”, com direção de Marcelo Marchioro, porque duas mulheres conversavam tão alto que ela conseguia ouvir o assunto: o shopping. “Eu disse: ‘Por favor, vão ao shopping, não venham ao teatro’.”
Outro comportamento inusitado que a incomoda é espectador bocejando – ela acha falta de respeito.
Resumindo, percebe-se que os atores também nos veem do outro lado da quarta parede... “Me tira bastante a concentração ver pessoas conversando. Não preciso nem estar ouvindo, mas a movimentação na plateia já me afeta. E se alguém sai, já fico com a pulga atrás da orelha por saber o motivo”, conta o ator e diretor Maurício Vogue, em cartaz com “O pequeno príncipe”.
Nas peças infantis que ele encena, existe ainda o risco – com frequência tornado realidade – de uma criança subir ao palco. Aconteceu com ele no último domingo, em São Paulo, quando uma criança de 2 ou 3 anos se empoleirou lá em cima: os pais nem se mexeram. “Acham bonitinho, mas é perigoso. Pode haver uma cena de corrida no palco e os atores não terem visto a criança”, avisa.
Poesia
O ator e diretor Edson Bueno, que acaba de inaugurar um auditório ultraintimista em sua própria casa, tenta resolver todas as questões delicadas antes de começar, para que a poesia do palco possa rolar solta. “Mas cada vez mais as pessoas se sentem em casa, acham que podem conversar, mexer em bala, comer pipoca”, diz. Ele também chegou a interromper uma apresentação de seu “Kafka” porque uma garota atendeu o celular na primeira fila.
Mas, se por um lado é uma incógnita a forma de lidar com mudanças de costume como a febre das redes sociais, os artistas também procuram ver algo bom na quebra da “aura ritualística” que houve outrora entre público e arte.
“O teatro hoje está muito próximo do público, e isso é bom”, considera Bueno. “As reações espontâneas do público nem sempre atrapalham”, pondera a atriz e diretora Nena Inoue. “Podem se somar ao espetáculo e colocar o ator em outro estado de sensibilidade e alerta.”
Uma solução prática foi adotada pela CAIXA Cultural: liberar filmagens e fotos durante o bis.
6 boas maneiras em plateia
Pontualidade
Não chegue atrasado. Em alguns casos não é permitida a entrada. Nos demais, atrapalha público e atores.
Silêncio
Não converse: é claro que atrapalha.Por outro lado, “repreender” alguém do outro lado do auditório pode causar ainda mais alvoroço.
Saídas
Evite sair do auditório, a menos em caso de grande necessidade.
Comida e bebida
Não fume dentro do teatro nem leve comida e bebida para os auditórios, a menos que seja permitido.
Celular
Desligue o celular, ou no mínimo tire o som, e resista à tentação de abrir a tela durante todo o espetáculo: a luz atrapalha todo mundo. Assista com seus olhos, não pela tela!
Bebês
Os pais com bebês têm sim direito a vida social, mas devem procurar atrações para o público infantil.
6 teatros e suas regras
Salas do Guaíra
Proibida a entrada com comida e bebida. Apesar de haver bombonière no Guaíra e no Guairinha, há placas avisando que o produto deve ser consumido no foyer. O Miniauditório e o José Maria Santos não vendem produtos.
Positivo
A abordagem de quem estiver com alimentos é feita seja na entrada ou durante a sessão. É possível entrar com água.
Teatro da Caixa
Um vídeo dá instruções antes de cada sessão sobre não comer, beber, conversar, utilizar o celular, filmar e/ou tirar fotos. As pessoas podem ser abordadas durante a apresentação caso infrinjam. É permitido filmar e fotografar durante o “bis”.
Regina Vogue
O teatro não permite a entrada com comida ou bebida, e diz sempre abordar as pessoas portando alimentos na entrada. Já durante o espetáculo isso não é feito porque a sala fica escura.
Fernanda montenegro
Permite entrada com água e pipoca somente nas peças infantis.
Novelas curitibanas
Não tem bombonière por ser uma casa preservada. De acordo com a administração, o público é cativo e não costuma dar problemas.
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