Aos 60 anos de idade, Maria Bethânia tem pouco ainda a provar. É ícone da cultura brasileira, da qual faz parte há mais de quatro décadas, desde que a saudosa Nara Leão a convidou para substituí-la, em 1965, no lendário show "Opinião", ao lado de João do Vale e Zé Kéti.

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Cantando "Caracará", Bathânia arrebatou o público e começou a trilhar uma jornada vitoriosa, coroada em 2006 com três acontecimentos de peso em sua carreira. Primeiro foi a grande vencedora do prêmio Tim, sendo reconhecida nas categorias de melhor cantora, disco ("Que Falta Você Me Faz", com canções de Vinicius de Moraes) e DVD (Tempo, Tempo, Tempo, Tempo). Depois, ficou encarregada de fazer o show-homenagem ao escritor Jorge Amado, na abertura da Festa Literária de Parati deste ano, para um platéia de escritores ilustres dos cinco cantos do planeta. Agora, Bethânia presenteia uma platéia bem maior.

Na verdade, não se trata, exatamente, de uma iniciativa da cantora baiana. Coube ao jornalista (e fã) Rodrigo Faour inventar o que ele mesmo chama de projeto maluco: relançar, de forma avulsa, nada menos do que 34 discos da obra da cantora. Para isso, foi necessário unir os esforços de três gravadoras multinacionais: a Universal (22 títulos), a EMI (5) e a Sony/BMG (6 álbuns de carreira mais uma coletânea de seus primeiros compactos simples).

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Segundo Faour, o trabalho foi exaustivo, mas valeu a pena. Foram preservadas todas as informações das artes gráficas dos álbuns originais em vinil e, no caso dos que já saíram originalmente em CD, também foram mantidos os projetos de origem. Não faltam, contudo, novidades: além da remasterização de boa parte das gravações, houve uma padronização dos fundos de estojo – sempre com um pequeno texto para informar o consumidor nas lojas do que se trata – e um artigo, este bem maior, de encarte, explicando o momento que vivia Bathânia durante o processo de produção de cada um dos álbuns.

Dentre os títulos que chegam ao mercado fonográfico de anos de ausência, alguns merecem especial atenção. "Maria Bethânia Canta Noel Rosa e Outras Raridades", por exemplo, reúne compactos (simples, duplos e triplos), lançados na década de 60, com canções do sambista da Vila Isabel. Dos anos 80, vêm dois dos álbuns mais elogiados (e menos ouvidos) de Bethânia: os belíssimos "Ciclo" (1983) e "A Beira e o Mar" (1984). Depois do estrondo comercial de "Álibi" (1978), que vendeu mais de um milhão de cópias, e "Mel" (1979), a cantora optou nesses trabalhos por desafiar as expectativas e fugir de canções de assimilação mais fácil, chegando ao extremo de, em um momento no qual imperavam arranjos mais eletrônicos, partir para o acústico, algo que só tornaria-se tendência uma década mais mais tarde. Sábia Bethânia.