Will Smith e Helen Mirren em “Beleza Oculta”| Foto: Barry Wetcher/Divulgação

Assistir a “Beleza Oculta” é se sentir ao mesmo tempo comovido e manipulado. Se as lágrimas saírem, é só porque elas são praticamente espremidas dos seus olhos com o apelo trágico ao qual o enredo recorre: a morte de uma menininha.

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O pai da menina, Howard (Will Smith), é o homem no centro da história. Dois anos após sua perda, ele ainda sofre para lidar com o luto. Antes o presidente carismático de uma agência de publicidade, um homem animado que dava palestras motivacionais em estilo TED-talk aos seus funcionários, ele agora passa os seus dias cuidadosamente fazendo arranjos complexos de dominós, só para depois – lá vem a metáfora – derrubá-los todos.

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Morando sozinho num apartamento minimalista em Nova York, Howard não come nem dorme direito, mas desenvolveu um hobby especialmente interessante: Ele compõe cartas – escritas a mão, endereçadas e de fato levadas ao correio – para conceitos abstratos como o Amor, o Tempo e a Morte.

Essas cartas teriam, sem dúvida, ido parar na lixeira das agências postais, se os amigos mais próximos de Howard não tivessem contratado um detetive particular para segui-lo. Whit, Claire e Simon (Edward Norton, Kate Winslet e Michael Peña) também por acaso são colegas de Howard e todos têm um motivo descaradamente egoísta para terem feito isso. É claro que eles estão um pouco preocupados com ele, mas querem provar que ele não tem competência mental o suficiente para administrar a empresa, para que o trio possa vendê-la.

Num esforço visível para suavizar o lado asqueroso desse plano, o filme procura mostrar como cada personagem, por acaso, tem também os seus próprios problemas para lidar: Whit está sem dinheiro depois de um divórcio amargo que fez sua própria filha se voltar contra ele; Claire nunca se casou, dedicando todos esses anos da sua vida à carreira, e agora lamenta nunca ter constituído família; e Simon tem uma tosse suspeita que não passa. Seria bom ele ir dar uma olhada nisso.

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As coisas ficam ainda mais complicadas quando os “amigos” de Howard contratam três atores, interpretados por Keira Knightley, Jacob Latimore e Helen Mirren para fazerem o papel do Amor, do Tempo e da Morte e confrontarem Howard com relação às cartas. O plano, muitíssimo duvidoso, é filmar essa interação – um homem deprimido tendo um debate acalorado com entidades abstratas – em segredo e então remover os atores na edição do vídeo. Voilà: prova de insanidade.

Sem sentido

Para ser franca, essa história toda não faz o menor sentido. Mas de que serve o enredo mesmo, não é, quando você tem closes extremos no rosto de Will Smith, seus olhos vermelhos enchendo de lágrimas enquanto ele revisita lembranças de uma tarde ensolarada no parque com sua filha (Alyssa Cheatham)? O modo como o filme tenta te manipular consegue ser tão sutil quanto o esquema dos amigos de Howard – e funciona na mesma medida. Que tipo de monstro sem coração não ficaria comovido vendo um pai de luto?

A cidade de Nova York nunca pareceu tão limpa, nem a tristeza um sentimento tão bonito. O filme consegue ser simultaneamente superficial e comovente. Isso não é fácil – tampouco é louvável.

Quando Smith não está em cena, o filme mantém um tom surpreendentemente leve, apesar do tema pesado. Mas ninguém deveria ficar chocado com a presença desse lado cômico, considerando que o filme conta com roteiro de Allan Loeb, roteirista de comédias como “Professor Peso Pesado” e “Esposa de Mentirinha”. Mirren está particularmente divertida no papel de uma artista boêmia maravilhada com a perspectiva de fazer o papel da Morte. “Isso é Tchecov”, ela diz após conhecer Howard pela primeira vez. A maioria dos outros membros mais famosos do elenco, porém, não têm papéis tão interessantes, nem de longe.

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“Beleza Oculta”, dirigido por David Frankel (“O Diabo Veste Prada”, “Marley & Eu”) tem todo o verniz de um projeto caro e bem dirigido. A cidade de Nova York nunca pareceu tão limpa, nem a tristeza um sentimento tão bonito. O filme consegue ser simultaneamente superficial e comovente. Isso não é fácil – tampouco é louvável.

Tradução: Adriano Scandolara