Há trailers que enganam. Fazem você sofrer por antecipação, adiantando que alguma coisa ruim acontece no filme – aí você fica afundado na cadeira, só esperando o momento de sofrer junto com o personagem.
Mas em “Brooklyn”, indicado ao Oscar de melhor filme, atriz e roteiro adaptado (Nick Hornby), os acontecimentos, independentemente se bons ou ruins, levam a cada vez mais perto da protagonista. Até que você se sinta identificado, e então tudo que interessa é que ela cresça, tome decisões, se arranje na vida.
Sotaque
O sotaque da protagonista interpretada por Saoirse Ronan no filme não é o verdadeiro sotaque dela , que é de Dublin. A explicação é que a personagem vem do interior da Irlanda.
Esse devia ser esse o sentimento dos familiares que ficavam para trás quando seus queridos emigravam rumo ao sonho americano. Essa é a trajetória de Eilis Lacey (a pronúncia irlandesa, que você aprende a amar no filme, é “Ailish”, no papel feito por Saoirse Ronan – de “Desejo e reparação”).
Ao sair do lugarejo de Enniscorthy, na Irlanda, e chegar ao bairro nova-iorquino do Brooklyn, a jovem, tímida e sincera, vê, realmente, tudo se arranjar. Ela viajara com o patrocínio da igreja, que lhe arranja uma pensão em que moram patrícias irlandesas, emprego, acolhimento. E quando ela conhece um descendente de imigrantes italianos, católico como ela, sério e trabalhador como ela, até parece que o filme já poderia acabar.
Mas uma emergência na família faz com que ela fique dividida – ao voltar para ajudar a mãe, percebe que o ano passado nos EUA aumentara seu status – uma vida na Irlanda já não parece tão ruim. Só que ela se vê com duas perspectivas de futuro. E agora?
Televisão
Coprodução da BBC com produtoras canadenses e irlandesas, o filme parte do romance de Colm Tóibín (de “O evangelho de Maria”), com roteiro de Nick Hornby (de “Alta fidelidade”).
Atriz
A forma como Saoirse vivencia esse drama, contida, parecendo transparente, mas aos poucos revelando a profundidade de seu drama, coloca a atriz americana de apenas 21 anos como um nome promissor.
Com direção de John Crowley (de “Circuito fechado”), o filme chama a atenção também pela alternância estética, já que tem duas etapas na Irlanda e uma nos EUA. As cenas caminham de um tom sóbrio e deprimente para coloridos radiantes na praia, que dão um gostinho da explosão consumista do pós-guerra nos anos 1950, quando óculos de sol e maiôs mais ajustados eram um ícone do desejo por pertencimento social.
O maiô que Eilis compra para ir a Long Island com o namorado ganha papel relevante no filme – dizem que ela pediu para ficar com ele quando as filmagens acabaram.
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