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Sofia Coppola e o pai, Francis, no Festival de Cinema de Tóquio, em 2013. | Dick Thomas Johnson/Wikimedia Commons
Sofia Coppola e o pai, Francis, no Festival de Cinema de Tóquio, em 2013.| Foto: Dick Thomas Johnson/Wikimedia Commons

O ano amanheceu com a porta da Frutaria Canadá fechada. A quitanda de Nagib Kaiel funcionou 48 anos no térreo do edifício Anita, centro, esquina da Carlos de Carvalho com Ermelino de Leão.

Foi lá, numa manhã de agosto de 2003, que o cineasta Francis Ford Coppola entrou de chapéu de pescador e camisa caqui, esticou os dedos indicador e médio e pediu “two bananas”.

Era o começo de uma curta amizade entre Francis e Nagib. E do roteiro de histórias protagonizado pelo cineasta que dedicou duas semanas a deambular por Curitiba.

Coppolla chegou no dia 30 de julho e hospedou-se na suíte presidencial no 16º andar do Hotel Bourbon. Duzentos metros ao leste, o Caffé Metropolis (também no Anita) virou seu ponto. O criador de O Fundo do Coração parava lá todo dia para um café nas mesas da calçada.

Veja imagens da passagem de Coppola por Curitiba

Coppola acompanha a filha, Sofia, no ano em que ela apresentou “The Bling Ring” (2013) em Tóquio.Dick Thomas Johnson/Wikimedia Commons

Em Curitiba, Coppola prospectava terreno para o nunca realizado filme Megalópolis. Há até o argumento e um esboço de story board (a história em quadrinhos que precede as filmagens) do filme, mas depois de Tetro (2009), ele parece ter deixado à filha Sofia as cameras e hoje prefere produzir vinhos.

Roteiro

Nos (seis) passos de Francis Coppola:

1. Frutaria Canadá

Quitanda clássica do Centro fechou as portas neste mês após 48 anos de atividade.

2. Caffè Metrópolis

O preferido de Coppola fechou a loja do Centro. Segue servindo ótimo café no Shopping Crystal. No imóvel do Anita, hoje há o Café Crema.

3. Hotel Bourbon

Coppola é tão ligado ao Bourbon que se tornou sócio de uma filial no bairro Retiro em Buenos Aires.

4. A Pamphylia

A “cantina das celebridades”, segue firme com a pizza Francis Ford Coppola no cardápio.

5. Biarticulado

Cineasta andou de busão (que pode ter tarifa de um dólar?).

6. Pedreira Paulo Leminski

Depois de seis anos fechada, reabriu em 2015.

Mas sua passagem pela terra de Valêncio Xavier foi marcante. Me motivou –e assim se faz com visitantes ilustres como Saint Hillaire e Dom Pedro II - a seguir seus passos 13 anos depois tentando descobrir o quanto resta da cidade que ele viu, cheirou e comeu.

Relendo as crônicas de Dante Mendonça e as colunas sociais de Reinaldo Bessa vê-se que Coppola se integrou ao território. Quase o personagem Zequinha das balas: há fotos de Coppola fazendo pizza, tomando chope, sendo paparicado e num jogo do Atlético contra o Paraná Clube.

A Baixada ainda tinha grama natural e o “pombal” de onde Mario Celso Petraglia cornetava bandeirinhas sem se preocupar em tuitar sobre o acordo tripartite.

Pizzas e camisas floridas

Conversando com quem conviveu com o homem notei uma coisa: quem tentou fazer contato formal não conseguiu. Muitos que nem sabiam quem ele era ficaram íntimos do gênio que um dia quis matar Dennis Hopper no set de “Apocalypse Now”.

Como o garçom Cléber de Souza do restaurante A Pamphylia que o reconheceu na mesa 28 da cantina e tornou-se seu primeiro amigo curitibano. Coppola jantou lá cinco vezes. Numa noite, meteu a mão na massa e criou uma receita para a casa.

O legado da visita de Coppola tem massa dupla coberta de generosa mistura de molho de tomate, azeite de oliva e manjericão fresco que depois de assados parecem uma das camisas tropicais do diretor criado no Queens em Nova Iorque. Para comer com a mão, serve quatro pessoas.

Numa tarde de sábado a professora de cinema Denize Araújo fez um golaço ao buscar Coppola no hotel e convencê-lo a dar uma aula a seus alunos. Ele falou que roteiro e atores são tudo num filme, de seu desprezo pela indústria do cinema e que achava o dvd uma evolução tecnológica importante.

Aqui, na esquina da Gazeta do Povo, ainda se negociam dvds. 20 reais por toda a série Star Wars. Nenhum filme de Coppolla.

Com o já ex-governador Jaime Lerner, o diretor de “Cotton Club” andou de biarticulado e se assustou com as pichações. Conheceu o MON, a Ópera de Arame, a Pedreira e foi até o Mercado Municipal comprar ingredientes para um jantar italiano.

Em seu livro de crônicas, “Quem Cria Nasce Todo Dia”, Lerner conta que ainda mantém amizade com o diretor e o resume numa frase: “ninguém supera os filmes extraordinários, os vinhos, nem a coleção de camisas estampadas do Coppola”.

  • Com Denize Araújo e Décio Pignatari durante palestra na Tuiuti.
  • Com amigos no Caffè Metrópolis.
  • Fazendo pizza na Pamphylia.
  • Assistindo ao clássico Atlético e Paraná na Arena da Baixada.
  • Ilustração de Benett lembra o episódio em que ele pediu duas bananas em uma quitanda
  • Pizza Coppola, criada em homenagem ao diretor.
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