A entrega do Urso de Ouro para “Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi, na noite de sábado (20), era praticamente uma certeza. Desde que estreou em Berlim, foi o título mais cotado para ganhar o prêmio, principalmente pelo tema da crise migratória dos refugiados, o principal foco do festival nesta edição.
O documentário foi rodado na ilha mediterrânea de Lampedusa, um dos locais que se tornaram símbolo da “fuga” africana para a Europa, e também palco de constantes tragédias e naufrágios.
“O filme de Rosi é urgente e imaginativo e se comunica com o mundo atual”, disse Meryl Streep, presidente do júri, quando subiu ao palco junto com Dieter Kosslick, diretor do festival, para entregar o prêmio.
O diretor agradeceu a Kosslick por colocar seu documentário no festival e dedicou “Fuocoammare” ao povo de Lampedusa. “Dedico o filme às pessoas de Lampedusa por aceitarem tantos refugiados ao longo dos anos em sua ilha e também àqueles que morreram no mar tentando alcançar uma vida melhor”, disse bastante emocionado.
O Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri para “Mort à Sarajevo”, de Danis Tanovic, também foi marcado pela politização. O filme, que analisa o significado da identidade europeia na perspectiva da Bósnia, ganhou ainda o prêmio da crítica internacional.
O polonês Tomasz Wasilewski ganhou o prêmio de melhor roteiro com “United States of Love”, uma história ambientada na Polônia nos anos 1990 logo após o fim do regime comunista.
O Urso de Prata de melhor diretor foi para A francesa Mia Hansen-Love por “L’Avenir”, protagonizado por Isabelle Huppert, uma mulher no outono da vida. “Agradeço aos meus produtores e, de forma muito especial, a Isabelle”, destacou Hansen-Love.
Majd Mastoura ganhou o Urso de Prata de melhor ator em “Hedi”, de Mohamed Ben Attia, no papel do jovem pressionado entre as tradições do país e as ideias progressistas da Primavera Árabe. Muito aplaudido, Mastoura subiu ao palco e dedicou o prêmio às pessoas que contribuíram para a revolução tunisiana, deflagradora do movimento libertário em vários países da África Mediterrânea.
Trine Dyrholm levou o Urso de Prata de melhor atriz em “The Commune”, do dinamarquês Thomas Vinterberg, interpretando Anna, uma conhecida jornalista de televisão, que é abandonada pelo marido. Dyrholm agradeceu a Vinterberg por tê-la convidado para fazer o filme. “É uma noite muito especial para mim, estou muito feliz de receber este prêmio do melhor festival do mundo e quero dividi-lo com você, Thomas”, declarou.
O Prêmio Alfred Bauer, para um filme inovador que abre novas perspectivas para o cinema, foi para “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”, do filipino Lav Diaz, um filme/maratona com oito horas de duração sobre o processo de independência das Filipinas na segunda metade do século 19.
A 66ª edição do Festival de Berlim manteve a fama de ser um dos festivais mais politizados do mundo, abordando questões migratórias, racismo, revoluções e guerras – inclusive a cibernética – e principalmente refugiados, o assunto aqui no momento.
E o foco não foi apenas nas telas: muitas outras medidas trouxeram o assunto à tona nesses onze dias. Para fazer com que os refugiados se sentissem bem vindos a Berlim, foram distribuídos ingressos grátis para que pudessem ir às sessões de vários filmes.
Muitos foram levados para conhecer os bastidores do festival, às vezes acompanhados por membros de ONGs que estão ajudando-os na adaptação à vida na Alemanha.
Sobre a programação, embora uma parte da crítica tenha dito que a deste ano não foi das melhores, não é bem assim. O festival apresentou ótimos filmes e, principalmente, cumpriu uma função importante do cinema que é trazer para as telas temas que estão na pauta da humanidade.
O Brasil não concorreu ao Urso de Ouro de longas, mas esteve no páreo de curtas com “Das Águas que Passam”, de Diego Zon. Embora não tenha levado o troféu, o filme do capixaba Zon foi bem recebido e, como ele mesmo disse, estar aqui já foi uma vitória.
Os selecionados para as paralelas – “Curumim”, de Marcos Prado e “Antes o Tempo não Acabava”, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo – foram exibidos sempre com casa cheia e com um público bastante interessado nas Q&A que aconteceram após as projeções.
“Mãe só há uma”, de Anna Muylaert – que, entre outros, inclui o tema da transsexualidade e também integrou a Panorama – foi lembrada pelo Teddy, conjunto de premiações sobre filmes com temática LGBTT. O longa, além do troféu concedido pela revista alemã Männer, foi mostrado aqui sempre com entradas esgotadas e críticas positivas.
Urso de Ouro: “Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi
Urso de Prata – Grande Prêmio do Júri: “Mort à Sarajevo”, de Danis Tanovic
Melhor diretor: Mia Hansen-Love, por “L’Avenir “
Melhor ator: Majd Mastoura em “Hedi”
Melhor atriz: Trine Dyrholm em “The Commune”
Melhor roteiro: Tomasz Wasilewski, por “United States of Love”
Prêmio Alfred Bauer – trabalho inovador (uma homenagem ao fundador da Berlinale): “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”, de Lav Diaz
Prêmio da Crítica Internacional: “Mort à Sarajevo”, de Danis Tanovic
Prêmio Teddy Bear – melhor filme de temática gay: “Kater”, de Handl Klaus
Prêmio de audiência da Panorama Principal: “Junction 48”, de Udi Aloni
Prêmio de audiência da Panorama Documenta: “Who’s Gonna Love Me Now”, de Barak e Tomer Heymann
Melhor filme da Mostra Generation: – Urso de Cristal: “The Trap”, de Jayaraj Rajasekharan Nair (Índia)
Melhor curta-metragem: “A Man Returned”, de Mahdi Fleifel (Reino Unido, Dinamarca, Holanda)
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