Na primeira cena de “O Filho de Saul” a câmera está desfocada. Sentimos um certo desconforto até que a imagem se ajuste e percebamos que o cenário é um campo aberto, onde caminham várias pessoas. É a forma de o diretor húngaro László Nemes nos preparar para o que está por vir: 105 minutos de uma jornada agonizante por uma das maiores tragédias da humanidade, o Holocausto.
O assassinato de milhões pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial parece uma temática inesgotável no cinema. Além de “O Filho de Saul”, também é o mote do alemão “Labirinto de Mentiras”. As duas produções foram exibidas na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e indicadas por seus países para disputar uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro.
Com o assunto sendo abordado constantemente, a pergunta parece inevitável: ainda é possível apresentar algo de novo? A resposta é sim. De forma aterradora, “O Filho de Saul” carrega o espectador por uma experiência sensorial em um campo de concentração. O filme levou o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes e tem estreia no Brasil prevista para fevereiro de 2016.
Não há muito o que dizer sobre a história. Saul faz parte de um grupo de judeus usado pelos alemães para trabalhar no campo de concentração. Seu trabalho é encaminhar os prisioneiros para as câmaras de gás, depois se desfazer dos corpos e cuidar da limpeza do local. Quando presencia a morte de um garoto (seu filho, como sugere o título?), Saul decide que precisa enterrá-lo com as bênçãos de um rabino. E inicia a saga para cumprir sua missão.
Com longos planos sequência e formato reduzido de tela, de 1:37, “O Filho de Saul” é um filme que aguça todos os sentidos. A câmera está quase sempre colada ao protagonista, fazendo um corpo a corpo tenso com as pessoas ao redor. Em vez de serem expostas abertamente, as atrocidades cometidas pelos nazistas aparecem no canto do olho, acompanhadas de muitos sons indicando aquilo que não é possível enxergar. Um exercício que exige atenção completa do espectador.
Tenso, angustiante e claustrofóbico são adjetivos que cabem ao filme de László Nemes, mas parece um tanto injusto defini-lo como uma experiência negativa. Ainda que se torne cansativo em alguns momentos (o que pode até ser parte da proposta do diretor), “O Filho de Saul” lança uma nova e brilhante variação sobre o mesmo tema. E inscreve o nome do húngaro junto ao de mestres como Steven Spielberg (“A Lista de Schindler”) e Roman Polanski (“O Pianista”).
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