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Cena de “Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi. | /Divulgação
Cena de “Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi.| Foto: /Divulgação

“Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi monopolizou a Berlinale neste sábado (13). O filme – até agora o mais aplaudido aqui – é sobre refugiados africanos, um dos assuntos mais presentes na imprensa local e nesta 66.ª edição do evento.

Ainda repercute a declaração de Dieter Kosslick, diretor do festival, quando disse, no seu início, que “viver com imigrantes já mudou nossa sociedade de forma positiva e a Berlinale é também um exemplo disso”.

A estreia mundial em sessão de gala de “Fuocoammare” foi antecedida de uma prévia para a imprensa, seguida de coletiva com Rosi e a equipe do filme.

O documentário foi rodado na ilha mediterrânea de Lampedusa, um dos locais que se tornaram símbolo da “fuga” africana para a Europa, e também palco de constantes tragédias e naufrágios. A ideia de Rosi foi mostrar os “destinos” opostos daqueles que nasceram e foram criados na ilha ítalo-siciliana e daqueles que chegam ao local em busca de uma vida melhor.

O cineasta passou meses morando na ilha, capturando a história, a cultura e a realidade cotidiana atual da população local assistindo à chegada toda semana de centenas de migrantes e refugiados à sua costa.

O filme traz um viés sociológico centrado em Samuele, de 12 anos, um garoto que gosta de caçar com seu estilingue os pequenos pássaros locais, e passa o tempo alienadamente brincando com o amigo, enquanto milhares de seres desesperados chegam à ilha.

Intensamente humano, o diretor por vezes bem humorado e quase sempre com compaixão, faz do documentário um drama trágico e desolador.

Rosi falou sobre sua proposta para realizar o filme, que tem tudo a ver com este momento que o mundo está vivendo.

“É sobre a Europa e o que está acontecendo aqui. Trata-se de imigrantes provenientes de uma África que morre no mar. Muitas pessoas temem o que está acontecendo, se assustam com coisas que, para elas, são desconhecidas. Estão sempre com medo de alguém que não conhecem. É isso que eu quero mostrar”, explicou.

Pietro Bartolo – que é um dos protagonistas do documentário – fez um longo relato sobre a dramática situação dos refugiados. “São centenas de crianças e mulheres e a maioria não consegue chegar ao destino na terra e morre no caminho”, concluiu visivelmente emocionado.

O diretor, que em 2013 ganhou o Leão de Ouro em Veneza com “Sacro Gra”, um road movie realizado na autoestrada que circunda Roma, manifestou sua satisfação por ter estreado “Fuocoammare” na Berlinale.

“Estou especialmente feliz por trazer a Berlim, no centro da Europa, a história de Lampedusa, seus habitantes e seus imigrantes”, ressaltou Rosi, de 52 anos, ele mesmo nascido na Eritreia.

Reinvenção da vida

A Berlinale também foi palco ontem da estreia mundial de “L’avenir”, de Mia Hansen-Love – diretora que aos 36 anos vem subindo no conceito da crítica com filmes como “O Pai dos Meus Filhos” (2009) e “Adeus, Primeiro Amor “.

O filme, mostrado numa prévia para a imprensa, é um dos concorrentes ao Urso de Ouro na mostra oficial do festival.

Competentemente protagonizado por Isabelle Huppert e André Marcon, o ótimo elenco inclui ainda Roman Kolinka e Edith Scob, entre outros.

A história gira em torno de Nathalie (Huppert) e Heinz (Marcon), dois professores de filosofia casados há muitos anos e com dois filhos já adultos.

Nathalie dedica seu tempo aos livros que publica, a seus ex-alunos que já se tornaram seus amigos e especialmente à sua possessiva mãe. Ela e Heinz estão ligados muito mais por hábito e por seus interesses intelectuais comuns do que por amor.

Até que Heinz diz a Nathalie que se apaixonou por outra mulher e que vai viver com ela.

Ao mesmo tempo, ela é confrontada com a morte da mãe e a solidão que se instala na sua vida. O verão está começando e, também para ela, este momento pode ser o início de uma nova vida.

Na coletiva, a diretora falou sobre o filme e como sua história de vida ajudou a realizá-lo.

“Meus pais são professores de filosofia e a trama é o retrato de uma mulher, um pouco inspirado na vida de minha mãe”, revelou. Sobre ter chamado Isabelle Huppert para ser a protagonista, disse que começou a escrever o roteiro quando estava filmando “Eden”.

“Nem tinha certeza se conseguiria chegar ao final do projeto. Então comecei a pensar em Isabelle para o papel e ela se encaixou tão bem, acho que tudo se tornou real graças a ela”, reconheceu com muitos elogios para a atriz.

De fato, o ótimo desempenho de Huppert rouba a maioria das cenas do filme.

Mia foi assistente de Olivier Assayas, com quem é casada e iniciou sua carreira como atriz no ótimo longa do diretor francês “Late August, Early September”.

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