Para qualquer cinéfilo ou jovem diretor, a ideia de filmar com o alemão Wim Wenders é um sonho. Mas essa experiência foi real para Juliano Ribeiro Salgado, que dirigiu, junto com Wenders, o documentário O Sal da Terra, sobre a vida e obra de seu pai, Sebastião Salgado (em cartaz nos cinemas). Porém, na edição, os dois “quebraram o pau”. A briga foi feia: o filme perigou não sair, contou Juliano à Gazeta do Povo.
Como surgiu a ideia de fazer O Sal da Terra? Você já tinha vontade de filmar a vida do seu pai?
Na verdade, era um filme que eu não queria fazer. Eu achava meio perigoso, tínhamos alguns embates entre pai e filho. Um dia, fizemos uma viagem para um território indígena em uma das reportagens de Genesis, e ele achava que poderia ser uma experiência interessante para nós. Voltei de lá, editei um curta-metragem de 20 minutos e o Sebastião ficou muito emocionado, viu a forma como o filho via ele. E aí me dei conta que seria um bom momento para fazer um filme sobre o Sebastião, porque iríamos nos reaproximar. Eu achava que as viagens por si só não sustentavam o filme, e as fotografias já tinham sido exibidas. Mas havia as histórias, únicas, que o Tião conta quando volta de viagem, e que poderia atingir uma audiência bem maior, a do cinema. E foi assim que começou a colaboração do Wim Wenders. A história do Sebastião é um drama. Conta coisas sobre o mundo, vai além do documentário tradicional.
Documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado está em cartaz no Espaço Itaú (Shopping Crystal) às 15h20 e 21h20; e no Cinépolis (Shopping Pátio Batel) às 18h15.
E como foi trabalhar com Wim Wenders?
Foi muito interessante, aprendi muito. Mas, quando começamos a editar, começaram os problemas. É como fazer um artigo com outra pessoa: cada um tem um jeito de integrar o seu leitor naquela história. Trazer o ambiente é algo muito pessoal. Dois meses depois da edição, ele ficou muito puto. Achou tudo muito ruim, começou a gritar na sala de edição, e foi embora. Voltou três meses depois. E aí concordamos que a decisão teria de ser radical: ou cada um ia embora com o seu material, ou conseguiríamos trabalhar juntos e editar a quatro mãos. Aconteceu, mas foi difícil. Ao mesmo tempo, foi muito legal porque conseguimos superar isso e fazer um filme que não faríamos sozinhos. Temos muito orgulho por conseguirmos deixar os egos de lado. Encontramos essa sintonia.
Você se coloca no documentário quando fala sobre a ausência de seu pai na infância. Por que escolheu essa opção?
Eu era bem tímido para fazer isso. Mas a gente precisava construir o personagem Sebastião Salgado e eu tinha que me incluir. Eu fazia parte disso. Ele é uma testemunha da história recente muito importante, porém, certas coisas sobre a nossa intimidade só eu podia falar. Foi por necessidade, para fazer o Tião existir como personagem.
Ser indicado para os prêmios mais importantes do mundo é um sonho para um jovem diretor. Também foi bom para expor o filme, que tem uma mensagem realista, mas de esperança.
Tanto nas narrações suas como nas de Wim Wenders, vocês ressaltam muito o papel de Lélia Wanick Salgado (mãe de Juliano e mulher de Sebastião) na formação do fotógrafo; Mas ela aparece pouco no filme. Por quê?
A Lélia tem um ar tímido, é difícil convencê-la de entrar na frente da câmera. Mas foi uma preocupação minha e do Wim evidenciar o papel dela no filme. E isso ficou muito claro com esse documentário, e tenho muito orgulho disso. Era uma questão de justiça.
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