Duas décadas após o lançamento do controverso “Kids”, a mais recente produção de Larry Clark, intitulada “O Cheiro da Gente”, chega aos cinemas brasileiros (veja no Guia os horários das sessões em Curitiba). O longa foi eleito o 4.º melhor do ano pela prestigiada revista Cahiers du Cinéma.
Em entrevista há alguns anos sobre o documentário, “Impaled”, Clark disse: “Sempre me perguntei sobre a disponibilidade de pornô em todo lugar e como isso afetava o que pensam sobre sexo, o que era e qual influência tinha”. Seu novo filme ainda pode ser considerado uma análise atual disso.
Ao centralizar principalmente na vida sexual precoce de skatistas parisienses, o diretor contrasta com uma visão romantizada de Paris, conhecida como a Cidade do Amor. Os adolescentes usam drogas, bebem, se prostituem e se rebelam – apesar de nada realmente justificar o comportamento transgressivo e autodestrutivo.
Exposição
As sequências sem linearidade são intercaladas com vídeos filmados por um celular, uma referência óbvia à exposição adolescente excessiva na internet, representada por um dos personagens. Ele filma absolutamente tudo, desde garotos andando de skate nas ruas de Paris até alguns de seus amigos fazendo programa ou com seus parceiros, em público ou privado, mas ninguém sabe para que os vídeos são usados.
Os personagens principais, Math e JP, assim como outros dois amigos, são garotos de programa . Eles se relacionam principalmente com homens muito mais velhos – normalmente para bancar seus vícios, táxis e streetwear de skatistas como a nova iorquina Supreme. São muitas as desconfortáveis cenas explícitas, principalmente envolvendo Math – mas que não chegam a ser tão perturbadoras quanto as de “Ken Park”, longa de Clark de 2002.
Outra cena é com a única garota do grupo, Marie, que, surpreendentemente, passa parte do filme correndo atrás de outros parceiros, inclusive Math, sem sucesso. “Estamos em 2013, todos os meninos são veados”, diz ela.
Em diversas cenas o diretor faz menção ao título , materializado em um pervertido, que cheira axilas de adolescentes em festas, e em Math, que diz estar impregnado com o odor de um de seus “clientes”.
Apesar de ser um retrato atualizado dos odores da sociedade, “O Cheiro da Gente” deixa a desejar na narrativa já explorada excessivamente em trabalhos anteriores do diretor. O longa está mais para uma versão francesa de “Kids”, mas sem aquele je ne se quois que deixou Clark conhecido.
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