“T2 – Trainspotting”, de Danny Boyle, sequência de “Trainspotting – Sem Limites” (1996), foi o destaque desta sexta (10) na 67ª edição do Festival de Berlim, onde era um dos filmes mais esperados.
Tanto a prévia para a imprensa, bem como as sessões programadas do filme, estiveram lotadas principalmente pela legião de fãs da cultuada primeira versão, sobre quatro jovens viciados em heroína vivendo em Edimburgo (Escócia).
O novo filme de Boyle – realizado duas décadas depois e também inspirado no livro de Irvine Welsh – mostra como a vida destes jovens de Edimburgo se transformou ao longo dos anos.
A sequência foi escrita por John Hodge, indicado ao Oscar pelo roteiro do cultuado original. O roteirista assinou a continuação ao lado de Welsh, autor do livro que deu origem à franquia.
Para escrever o roteiro, a equipe foi para a Escócia, onde participou de um workshop de algumas semanas em Edimburgo.
O elenco original composto por Ewan McGregor, Johnny Lee Miller, Robert Carlyle e Ewen Bremmer está de volta na sequência.
Se o primeiro filme foi sobre a alegria de ser jovem – a descontração, os erros, a camaradagem – “T2” é sobre as decepções de envelhecer – as limitações, os arrependimentos, a necessidade de reconexão. O passado compartilhado desses amigos está entrelaçado em seu presente e é nisso que o novo filme aposta.
Além de ser gostoso rever personagens que marcaram época pela transgressão e perceber que, com o passar de duas décadas, o valor simbólico continua o mesmo, o novo filme é mais bem fotografado e mais divertido que o primeiro.
Na concorridíssima coletiva após a projeção – da qual participou a Gazeta do Povo – Boyle contou que há 10 anos tentava tirar Trainspotting 2 do papel.
“Nós tentamos por muito tempo fazer esta sequência, mas não queríamos desapontar as pessoas que tanto a aguardavam com um trabalho difícil cheio de problemas e que tinha que ser bem feito. Havia dificuldades como a evolução das câmeras que ficaram menores e melhores, a busca por qualidade que ficou mais alta, assim como a preocupação com os resultados”, detalhou o diretor expressando sua satisfação por finalmente ter realizado a sequência.
“Mas, de qualquer forma, é muito bom voltar a trabalhar com profissionais amigos, em fases diferentes da vida profissional de cada um, ver como evoluíram e como mudaram profissionalmente”, ressaltou.
Boyle havia declarado algumas vezes que estava preocupado com a reação dos espectadores.
“As pessoas vão nos crucificar se não gostarem do filme. Mas é preciso superar os riscos e procurar realizar um trabalho legal”.
A julgar por essa passagem na Berlinale, o diretor inglês pode ficar tranquilo. Para alguns, pode até não ser a sequência que esperavam, mas para muitos, principalmente os admiradores da franquia, ele certamente foi aprovado.
“The Dinner”
Outra atração da mostra oficial foi “The Dinner”, de Oren Moverman, terceiro cineasta a adaptar para as telas o best-seller “O Jantar”, de Herman Koch, lançado no Brasil pela Intrínseca.
Uma versão foi realizada em 2013 pelo diretor holandês Menno Meyjes e em 2014 houve outra, desta vez italiana, dirigida por Ivano De Matteo com o título “Os Nossos Meninos”.
Moverman retorna ao festival oito anos depois de ter participado da mostra competitiva com “O Mensageiro”, seu filme de estreia em 2009, quando ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro (dividido com Alessandro Camon) e o Peace Film Award.
Além da curiosidade pelo novo trabalho de Moverman ser mais uma adaptação de um livro num espaço de quatro anos, “The Dinner” tem um elenco de peso com Richard Gere, Laura Linney, Steven Coogan e Rebecca Hall.
O filme começa com Paul (Gere) e Claire (Linney) se preparando para um jantar com Stan (Coogan), irmão de Paul e sua esposa Barbara (Hall).
A trivialidade inicial da conversa sobre filmes que estão em cartaz e férias de verão, entre garfadas prazerosas e sorrisos educados, parece sugerir um jantar aparentemente normal. Mas, numa história que vai sendo revelada em camadas, os espectadores vão também aos poucos descobrindo que os casais não se juntaram ali pelo prazer da refeição e da companhia, mas sim para discutir um grave ato de violência ocorrido na família.
A natureza do mal, que começa a ser exposta durante o jantar e a sutileza moral da trama fazem desta uma história controversa, incômoda e provocadora. É uma narrativa que captura o leitor nas primeiras páginas do livro e que a adaptação de Moverman consegue fazer o mesmo com os espectadores.
Na coletiva após a projeção, o diretor deu sua versão para a história do livro de Koch.
“Acho que é um passeio extraordinariamente provocador e consciente que toca em questões culturalmente relevantes e transforma-as num intrincado cardápio de medos primitivos e paixões”, descreveu Moverman, complementando: “além disso, agora quando estou fazendo um filme, deixo minha raiva aflorar sobre tudo que está acontecendo no mundo”, ressaltou.
Gere, por sua vez, falando sobre seu personagem, disse que ele emerge durante a história. “Meu esforço foi manter o personagem vivo e, de certa forma tive que compô-lo”, disse o ator, que foi direto quando provocado com a pergunta de um jornalista sobre o novo presidente dos Estados Unidos.
“Eu não estaria num jantar com Trump e nem seria convidado”, devolveu Gere sob aplausos e risos da plateia.