Ao longo de quase três meses, Willem Dafoe, ator norte-americano de 60 anos, se percebia isolado, mesmo rodeado de tanta gente. Via ao redor operadores de câmera, companheiros atores, equipe técnica, produtores, mas, de um jeito ou de outro, não era um deles. Não estavam na mesma sintonia.
A língua era uma daquelas barreiras intransponíveis, afinal. Dafoe não é um novato em solo brasileiro – passou pelo Festival de Cinema do Rio, em 2011, e atuou na peça “A Velha”, em 2014. Mas não aprendeu a falar português.
Estava isolado, da mesma maneira como, de certa forma, se isolava o personagem interpretado por ele em “Meu Amigo Hindu”, novo filme de Hector Babenco, que entrou em cartaz nesta semana (confira salas e horários no Guia).
A distância de casa, da esposa, a barreira linguística, todas as circunstâncias de afastamento colocavam Dafoe em uma posição solitária. Falavam inglês nas cenas, mas pouco havia para se conversar na língua depois que o diretor argentino gritava “corta”.
Doente
“Eu ficava ali, preso numa cama, cheio de coisas grudadas no meu corpo, ou em uma cadeira de rodas. Era sempre o doente”, relembra Willem Dafoe sobre as filmagens entre 2014 e 2015.
Dafoe, experiente tanto em blockbuster quanto em filmes autorais e independentes, soube aproveitar o isolamento involuntário para entrar em contato com Diego, o cineasta fictício em luta contra um câncer no filme que tem ares ora autobiográficos, outros absurdos, de Babenco.
“É claro, todos eram muito amáveis comigo. Me davam tudo o que eu precisava ou pedia. Mas, socialmente, eu era o gringo”, diz o ator, em um tarde chuvosa, horas antes da pré-estreia da nova versão do longa em São Paulo – “Meu Amigo Hindu” havia estreado na Mostra de Cinema de 2015, mas passou por uma remontagem e perdeu 11 minutos.
Filmagens ocorreram na casa de Babenco e no hospital Sírio-Libanês.
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