O aclamado diretor de cinema polonês Andrzej Wajda morreu neste domingo (9) em Varsóvia, aos 90 anos, de uma insuficiência pulmonar, anunciaram meios de comunicação poloneses.
A morte de Wajda, que deixa uma longa série de filmes célebres, inspirados na turbulenta história de seu país nos anos 1980, foi noticiada pelo jornal Gazeta Wyborcza Daily e pela emissora de notícias privada TVN24. Ele estava internado há vários dias em coma induzido devido a problemas pulmonares, acrescentaram as fontes.
O diretor, que ganhou o Oscar no ano 2000 pelo conjunto da obra, voltou-se para o cinema após fracassar no plano de ser militar.
A obra de Wajda inclui clássicos como “O Homem de Mármore” (1977), uma crítica à Polônia comunista, seguida três anos depois por “O Homem de Ferro”, que conta, quase em tempo real, a história do Solidariedade, o primeiro sindicato independente do bloco comunista.
Repercussão
Figuras destacadas do mundo das artes e da política prestaram nesta segunda-feira (10) na Polônia uma emotiva homenagem ao cineasta. “Todos somos Wajda. Víamos a Polônia e a nós mesmos através dele. E a entendíamos melhor. A partir de agora, será mais difícil”, lamentou no Twitter Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro-ministro polonês.
Em seus filmes, Wajda explicou aos poloneses e ao mundo inteiro sua história, dos grandes momentos ao períodos mais obscuros. “Um grande personagem, um grande polonês, um grande patriota e um grande diretor passaram à eternidade”, lamentou Lech Walesa, líder histórico do sindicato Solidariedade e Prêmio Nobel da Paz. “Nós voltaremos a nos ver; já fiz minha malas”, acrescentou Walesa ante vários jornalista, sem mais detalhes.
A escola de cinema de Lodz, de onde saíram todos os grandes nomes da sétima arte na Polônia, incluindo Wajda, colocou bandeiras negras em sua entrada.
“Foi um homem corajoso, de uma grande autoridade, um mestre para os jovens”, assinalou o ator Daniel Olbrychski, que atuou em 13 filmes de Wajda. Resumindo o sentimento geral, um crítico de cinema, Tomasz Raczek, escreveu no Twitter: “O luto no cinema polonês será longo”.
Sempre ativo
Nos últimos meses, os amigos constataram que sua saúde estava se deteriorando, mas, mesmo assim, Wajda se mantinha muito ativo, apoiado por sua esposa, Krystyna Zashwatowicz, atriz, diretora e cenógrafa.
A Palma de Ouro em Cannes por “O Homem de Ferro” salvou Wajda da prisão em 1981, quando o regime do general Wojciech Jaruzelski lançou uma ofensiva contra o Solidariedade. Porém, não lhe restava outra saída que continuar filmando no exterior. Neste período, lançou “Danton” (1983), “Um Amor na Alemanha” (1986) e “Os Possessos” (1988).
Após a queda do comunismo, em 1989, Wajda retornou à história polonesa com diferentes filmes, como “Katyn” (indicado ao Oscar em 2008) e que conta a história de seu pai, Jakub Wajda, um dos 22.500 oficiais poloneses massacrados em 1940 pelos ocupantes soviéticos.
Amante do teatro, Wajda também dirigiu dezenas de peças, algumas no exterior, como América do Sul e Japão.
Wajda era fascinado pela cultura japonesa e criou em 1994 o Centro Manggha de Arte e Tecnologia Japonesa, na cidade histórica polonesa de Cracóvia. Em 2002, ele criou sua própria escola de direção e roteiro.
Seu filme póstumo, “Powidoki” (Afterimage), que conta os últimos anos de vida do pintor de vanguarda Wladislaw Strzeminski e sua luta contra o stalinismo, foi concluído neste ano (ainda não estreou em salas comerciais) e será candidato a uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro pela Polônia.