“Nosferatu – O Vampiro da Noite” é um pesadelo inesquecível, um filme de vampiro assustador, um terror para adultos que respeita as regras do gênero – ele tem morcegos, dentes, crucifixos, o pacote todo – e faz até os detalhes mais improváveis parecerem “possíveis”.
A começar pelo vampiro. O ator Klaus Kinski (1926-1991) era insano. Existem vídeos para provar. Ele costumava ter surtos de ódio nos sets de filmagem, em palcos de teatro, diante de qualquer plateia... Ele dizia ser incrível (“Ich bin genial!”), mas, na verdade, era genial quando trabalhava para o diretor Werner Herzog. E Herzog, hoje com 73 anos, era ainda mais insano que Kinski.
A cópia restaurada de “Nosferatu – O Vampiro da Noite” (1979) estreia no Espaço Itaú, em Curitiba, na próxima quinta-feira (1.º de outubro), depois de uma pré realizada no último sábado (26). É o equivalente cinematográfico de ver um Picasso no Museu Oscar Niemeyer.
Juntos, Herzog e Kisnki fizeram cinco filmes – sem contar o documentário que aborda a relação dos dois, “Meu Melhor Inimigo” (1999). O maior de todos é “Fitzcarraldo” (1982), famoso porque o diretor carregou um navio montanha acima, no braço, com a ajuda de centenas de índios.
“Nosferatu” adapta o livro de Bram Stoker e faz referência ao filme clássico de 1922 realizado por Friedrich Wilhelm Murnau. Kinski é o Drácula e Isabelle Adjani, a Lucy.
Roteiro
Filme de Werner Herzog estreia em Curitiba na quinta-feira (1.º de outubro).
O filme mudo de Murnau teve problemas com direitos autorais e as referências ao livro de Bram Stoker tiveram de ser apagadas. Assim o personagem do ator Max Schreck é o conde Graf Orlok. “Nosferatu” (1922) é um marco do cinema e do movimento identificado como expressionismo alemão.
Cinquenta anos depois de Murnau, o livro de Bram Stoker caiu em domínio público, assim Herzog conseguiu criar uma versão cinematográfica que faz referências tanto ao filme de 1922 quanto ao texto de 1890, amarrando tudo com uma maneira própria de ver e fazer as coisas.
É aqui que a história fica boa – porque a maneira própria de Herzog é insanamente genial. Ele abre o filme com imagens de múmias mexicanas que havia conhecido mais de uma década antes. Numa versão comentada de “Nosferatu”, incluída no DVD americano, ele explica o porquê: “Para estabelecer um clima de morte”.
A peste
Um dos aspectos mais discutidos do “Nosferatu” de Herzog diz respeito aos 11 mil ratos que ele usou na cena em que o navio carregando Drácula chega à cidade cortada por canais.
Outro exemplo de como o diretor alemão trabalha aparece na cena em que Jonathan (Bruno Ganz, de “Asas do Desejo”) chega ao vilarejo próximo do castelo de Drácula. Uma multidão de ciganos corre para recebê-lo, cercando-o, agarrando suas roupas, gritando palavras num idioma próprio. Um crítico disse para Herzog: “Que atores incríveis! Eles parecem mesmo ciganos!”. E o diretor, no seu inglês carregado de drama, rebateu: “Eles não são atores. Eles são ciganos de verdade”.
Parte da trilha sonora é do Popol Vuh , um grupo alemão de rock progressivo liderado por um amigo de Herzog – o que explica ele aparecer em várias trilhas sonoras pensadas pelo diretor. O som é aterrorizante e reforça a sensação de sonho que percorre “Nosferatu”.
No fim, não há créditos nem nada. Só escuridão.
“Gosto disso. Gosto de como o filme termina em aberto e assim pode continuar na cabeça do público”, disse Herzog.
E, ah, ele continua...