O cineasta Jia Zhang-ke é um cronista das transformações da China pós-Mao Tsé-tung. Por suas lentes vagam mineradores, batedores de carteira, adolescentes desempregados e toda a sorte de párias perdidos entre a herança repressiva da Revolução Cultural e a draga voraz que é a potência asiática hoje.
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E é pelas lentes de Walter Salles, outro entusiasta de narrativas sobre gente despida de poder, que vaga o diretor chinês no filme “Jia Zhang-ke, um Homem de Fenyang”, obra dirigida pelo brasileiro – em pré-estreia nos cinemas (confira os horários no Guia).
No documentário, Salles se deixa conduzir por Zhang-ke: conhece atores, amigos de infância do diretor, vai à casa onde ele morou na poeirenta e empobrecida Fenyang, norte da China, e desvela histórias sobre privação e repressão nos país nos anos 1970 e 80. Aos poucos, o que se descortina é o drama social que o chinês exorcizou na forma de cinema.
“Ninguém filmou os efeitos devastadores da globalização como ele, de forma tão aguda e, ao mesmo tempo, com tamanha delicadeza e afeto por seus personagens”, disse Salles à Folha de S. Paulo. “Seus personagens viviam no outro lado do mundo, mas suas angústias e desejos poucas vezes me pareceram tão próximas.”
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