Lázaro Ramos vive um violinista que falha em teste da Osesp, mas se reinventa como professor de música.| Foto: Bia Lefevre/Divulgação

Baseado em história real, em torno da criação do Instituto Bacarelli, responsável por uma orquestra sinfônica e um coral na antiga favela, hoje bairro paulistano de Heliópolis, “Tudo que aprendemos juntos”, de Sérgio Machado, descola-se, desde as cenas iniciais, do perigo de transformar-se num “filme ONG”, ou seja, piedoso e didático.

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A presença de Lázaro Ramos no epicentro do drama é um dos fatores responsáveis pela consistência dramática da narrativa, baseada num roteiro escrito a quatro mãos por Machado, Marcelo Gomes, Maria Adelaide Amaral e Marta Nehring, inspirado também na peça “Acorda Brasil”, de Antonio Ermírio de Moraes.

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No entanto, a presença carismática do ator não engole o sentido coletivo do que se retrata, ainda mais pela participação afinada de um jovem elenco de atores, em sua maioria selecionados em Heliópolis e arredores – mais uma marca de verdade documental procurada na trama.

Prodígio infantil no violino, o virtuose Laerte Santos (Lázaro) é reprovado quando tenta uma vaga na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).

O fracasso desmonta sua vida pessoal e ele precisa urgentemente de um emprego. Surge uma vaga de professor numa escola pública em Heliópolis, em que a diretora (Sandra Corveloni) tenta manter a duras penas um projeto de ensino de violino para garotos de baixa renda, patrocinado por uma ONG.

O diretor

O baiano Sergio Machado, de 47 anos, trabalhou como diretor assistente de Walter Salles em “Central do Brasil” (1998), indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Depois estreou na direção com “Onde a Terra Acaba” (2002), seguido de “Cidade Baixa” (2005), “Quincas Berro d’Água” (2010) e “Acorda Brasil” (2013).

A entrada de Laerte nesse mundo é um choque de realidade que o filme não suaviza. As condições da escola são precárias, com os alunos tendo aulas com violinos mal-cuidados, ao ar livre, numa quadra esportiva. Eles não sabem ler partituras e têm dificuldade de concentração. Mais do que tudo, o novo professor, prontamente apelidado de “Obama”, precisa aprender a falar a língua deles e ganhar respeito, além de atenção.

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Fora da escola, o cotidiano dos alunos não é menos duro. O mais talentoso entre eles (Kaíque Jesus) não consegue ensaiar em casa, pressionado pela rigidez do pai (Thogun). Outro (Elzio Vieira), apesar de talento, está com um pé na marginalidade. O próprio Laerte terá que conviver com o poder do crime organizado, sendo vigiado de perto pelo maior traficante local (o rapper Criolo, cujas composições têm parte substancial na trilha).

Tiro certo

O grande acerto da história está em não ocultar as diferenças entre o mundo classe média de Laerte e o contexto carente de seus alunos.

E a sofisticação de um instrumento como o violino é a metáfora perfeita de como um elemento aparentemente exótico tem o poder de transformar uma realidade, a partir da ferramenta da educação.

Sem idealizações nem propostas de milagre, “Tudo que aprendemos juntos” concretiza uma trajetória humana convincente, emocionalmente impactante e que na vida real deu certo, apesar de todos os percalços.