Seja no Velho Oeste, no front de guerra, sobre o ringue ou nas ruas violentas da metrópole, seja na chave da ação ou do drama, os protagonistas de Clint Eastwood costumam ser tipos vergados pelas consequências de uma escolha que guiará de forma decisiva sua trajetória.
O piloto de avião Chesley “Sully” Sullenberger é mais um dos personagens reais que se adaptam a esse perfil tão caro ao diretor. Em 15 de janeiro de 2009, o experiente comandante recém havia decolado um Airbus do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, quando teve poucos segundos para tomar a decisão que salvou a vida de 150 passageiros e mais quatro colegas de tripulação: fez um improvável pouso de emergência nas águas geladas do Rio Hudson – apenas uma aeromoça ficou levemente ferida.
“Sully – O Herói do Rio Hudson” entra em cartaz no Brasil nesta quinta (15) após sua estreia ser postergada por duas semanas, em razão da tragédia com o time de futebol da Chapecoense, na Colômbia, acidente que matou 71 pessoas.
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Sobre o roteiro de Todd Komarnicki, Eastwood estrutura uma narrativa em que a façanha do piloto fica no plano secundário. Mas está presente, encenada de forma muito potente em seus aspectos visuais e sensoriais, entrecortando a trama sob diferentes pontos de vista. O foco do diretor está no processo que se seguiu ao episódio, quando Sully precisou justificar a uma comissão investigativa se fez uso de sua perícia da forma mais correta, conforme recomendam os manuais.
Trauma do 11 de setembro
A figura que se ilumina na tela com o ator Tom Hanks é fascinante. Como lidar com o peso de ser um herói celebrado pela mídia, pela população, por colegas de ofício e pelos sobreviventes que renasceram sob seu comando e, ao mesmo tempo, ser um profissional sob desconfiança: eis a questão que molda a sólida dramaturgia de “Sully”.
Existe um importante contexto pairando no julgamento. Um grande avião dando rasante sobre Nova York era ainda um trauma recente após o 11 de Setembro. E foi grande o risco de o Airbus de Sully se espatifar contra um prédio. Assim que decolou, a aeronave colidiu com pássaros e teve as turbinas seriamente danificadas. O piloto percebeu que não teria tempo de retornar ou buscar outra pista próxima, procedimento que simuladores indicam ser possível naquele caso. A pressão emocional é tanta – e tem ainda os aspectos financeiros que envolvem de seguros milionários ao risco de se ter a carreira arruinada às vésperas da aposentadoria – que o próprio Sully passa a questionar seu papel na ação que, defende ele, desconsidera um elemento decisivo na equação: o fator humano, a combinação de feeling e tempo de ação – reação que máquina alguma consegue prever.
O desafio na prática de códigos morais inquebrantáveis, conflito eastwoodiano por definição, é a grande força de “Sully”. E torna irrelevante um que outro tropeço no sentimentalismo, nem tanto pelo destaque para o núcleo familiar e mais pela desnecessária invasão do real na ficção, com o verdadeiro Sully reencontrando aqueles a quem deu uma segunda vida para celebrar. Esse recurso é sempre um golpe baixo para fixar no espectador a empatia com o personagem. O herói do filme é Tom Hanks.
5 personagens reais dos filmes de Clint Eastwood
Forest Whitaker foi o melhor ator no Festival de Cannes encarnando, em “Bird” (1988), o grande saxofonista do jazz. Eastwood ganhou o Globo de Ouro de melhor direção.
Vivido por Ken Watanabe em “Cartas de Iwo Jima” (2006), o general comandou a tenaz resistência japonesa contra as forças dos EUA no Pacífico ao final da II Guerra Mundial.
Em “Invictus” (2009), Morgan Freeman encarna o presidente sul-africano em um episódio que simbolizou sua luta para integrar negros e brancos após o fim do apartheid.
Leonardo DiCaprio interpreta em “J. Edgar” (2011) o chefão do FBI que, por mais de 40 anos, fez uso do aparato de vigilância que montou para permancer no poder.
O personagem de “Sniper Americano” (2014) representado por Bradley Cooper foi um franco-atirador das forças de elite americanas que fez história com sua precisão no front da Guerra do Iraque.
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