Nas paradas
Segundo a agência de notícias Folhapress, a música hit da trilha sonora do filme, “Love Me Like You Do”, interpretado pela britânica Ellie Goulding, já assumiu o topo da lista do Spotify, o serviço de música por assinatura mais popular do mundo.
Espinafrada pela crítica e ardentemente exaltada pelos fãs da obra da escritora inglesa Erika Leonard James, a adaptação de Cinquenta Tons de Cinza para as telas de cinema já concentra recordes.
“Love story” para mulheres
- Angieli Maro
A febre de Cinquenta Tons de Cinza tem uma fórmula. Segundo a psicanalista Maria Carolina Bellico Fonseca, integrante do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais e que já analisou o furor causado pela história de E.L. James entre as mulheres, a receita agrega erotismo ao velho e indispensável romance água com açúcar. Tais ingredientes funcionam como um chamariz para uma geração herdeira da revolução sexual, mas que ainda vive num ambiente acinzentado quando precisa debater o assunto. “Nós temos uma certa dificuldade de lidar com a perversão vista no filme. E quando alguém se autoriza, mesmo que seja pela literatura, a tocar no assunto, acaba nos atraindo naturalmente”, diz. Segundo a psicanalista, não é qualquer tipo de mulher que se identifica com a obra. Em geral, o perfil daquelas que aprovam a história é menos similar ao estereótipo feminino. “São mulheres que se identificam com Christian Grey e que levam o sexo sem muitas consequências”, analisa. “Mas, em pleno século 21, ver mulheres fascinadas e buscar homens poderosos como Grey é curioso”. Em resumo, a busca por uma solução perfeita, na qual perversidade e amor tentam se completar, não passa de um novelão.
Além de alcançar a arrecadação máxima em 11 países, como Itália, Argentina e Polônia, e acumular cerca de US$ 94 milhões em seu fim de semana de estreia nos Estados Unidos (entre 13, 14 e 15 de fevereiro), o filme da Universal também aparece no ranking como a maior estreia de todos os tempos para um mês de fevereiro.
Mas, afinal, o que é que Cinquenta Tons de Cinza tem? Qual é o segredo de tanto sucesso? As respostas para essas perguntas não se sustentam pela qualidade do filme. Muito menos pela originalidade da narrativa.
A história conduzida pelos atores Jamie Dornan e Dakota Johnson recai sobre as incertezas vividas por estereótipos corroídos pelo tempo: o bilionário e bem-sucedido Christian Grey, que pretende fazer da virgem e romântica Anastacia Steele seu objeto sexual por ofício e por necessidade. Na justificativa miserável, uma tentativa de juntar as peças de uma infância estilhaçada pelo sofrimento.
Cinquenta Tons de Cinza – pelo menos no cinema – está mais para comédia do que para uma produção libertinosa.
O público limite da classificação indicativa (16 anos) é o que mais se empolga com os suspiros da mocinha Anastacia e com o poder de dominação exercido por Grey – que, moldado à Michelangelo, criou uma legião instantânea de fãs.
Em uma das sessões exibidas na tarde da última quarta-feira (18) no cinema do Shopping Curitiba, pelo menos 30 dos 40 telespectadores presentes eram adolescentes. A maioria se recusou a dar entrevista porque estava lá escondido dos pais. Adolescentes ou não, a grande isca de quem gostou do filme foi unânime: ele é “diferente”. Empolgado, Gabriel Gustavo Cordeiro, de 17 anos, explica que este diferencial é a abordagem do sexo de forma “diferente.” “O que mais me chamou a atenção são as cenas de nudez. A gente não vê coisa assim no cinema e é muito diferente de tudo o que já vi”, contou o adolescente logo após ver o filme. O termo “diferente” também foi usado pela representante Roseli Costa. Aos 37 anos, ela integrava o público esmagadoramente feminino da sessão e confessou: “Me apaixonei pelos dois personagens. E pelo filme. Diferente do que muitas pessoas falam, não é uma coisa de gostar de apanhar. É gostar de fazer algo diferente”, conclui.
Subordinação
Na opinião dos entrevistados, os 125 minutos de Cinquenta Tons de Cinza podem até agradar. “Gostei e recomendo, porque, no fundo, é uma história de romance”, diz outra espectadora, Luciane Marchis, de 36 anos.
Por outro lado, além do balde de água fria jogado pelos críticos, a obra carrega polêmicas sustentadas por grupos de combate à violência doméstica, que argumentam a incitação à agressividade contra mulheres. Antes de assistir ao filme, Ione Lopes, de 17 anos, já afirmava veementemente que não indicaria o filme de forma alguma. “Estou aqui para cumprir um desafio. Todo mundo diz que o livro em si já não é bom. É uma literatura muito perversa que impõe a subordinação do gênero feminino”.
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