No domingo passado, aqui mesmo neste Caderno G da Gazeta do Povo, saiu uma notícia que preocupou a todos os que se interessam por cultura em Curitiba. A reportagem de Rafael Rodrigues Costa mostra que os grupos musicais ligados à Fundação Cultural de Curitiba, especialmente os do Conservatório de MPB, estão correndo perigo. Ícones musicais da cidade, como o Vocal Brasileirão, o Coral Brasileirinho, a Orquestra à Base de Corda e a Orquestra à Base de Sopro, além da Camerata Antiqua de Curitiba, estão sem contratos e sem recursos, embora o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli assegure que os grupos não vão acabar.
Gestão após gestão, o Conservatório de MPB de Curitiba vai minguando. A cada ano uma crise diferente ou uma prolongação de uma mesma crise que nunca se resolve. Assim como aconteceu no ano passado, toda a programação da Oficina de Música de Curitiba também está atrasada e vive dias incertos.
O Conservatório já teve dias melhores e hoje se sustenta da dedicação de funcionários abnegados e mau pagos. Seus grupos musicais, apesar da excelência reconhecida internacionalmente, são tratados pelo administrador de plantão quase como um estorvo, uma coisa a mais para se preocupar, quando deveriam ser tratados como algo para a cidade se orgulhar.
Cordiolli diz que a Prefeitura de Curitiba passa por uma "crise fiscal" e que por isso os recursos não estão entrando (será que o povo não está pagando o IPTU em dia?) e isso dificulta a manutenção dos projetos da "Fucucu".
Usando uma linguagem que parece a de político em véspera de eleição quando confrontado com uma pergunta difícil, Cordiollli afirmou o seguinte ao repórter Rafael Costa: "Mas não vamos em hipótese alguma fechar os grupos. O que talvez tenha de acontecer é um processo de reestruturação em sua forma de relacionamento. Mas vamos fazer isso de maneira dialogada. Mesmo que tenhamos de tomar medidas duras, não está previsto desligamento de pessoas".
O que seria uma "reestruturação em sua forma de relacionamento", ficou um tanto vago. Seria uma "privatização", em que os grupos não teriam mais ligação com a Fundação Cultural? Uma espécie de autogestão, em que eles teriam de se virar para conseguir os próprios recursos? É tão estranho ouvir isso de uma administração ligada ao PT, não é?
Lembremos que a Oficina de Música de Curitiba já esteve ameaçada e foi encolhida em tamanho e dias de funcionamento em janeiro deste ano. Na época, ainda fresco na presidência da Fundação, Cordiolli disse que a troca de prefeitos atrapalhou a arrecadação de recursos e fez grandes promessas ao mesmo repórter Rafael Rodrigues Costa.
Nos próximos três parágrafos, vou reproduzir um trecho daquela reportagem, em que Cordiolli faz um balanço de encerramento da Oficina de 2014 e acrescenta algumas promessas, que não foram cumpridas. Acho que não preciso nem comentar o que ele prometeu. Cada um que julgue por si mesmo. Então lá vai:
"Em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo, o presidente da FCC, Marcos Cordiolli, atribuiu a perda de patrocínio da Oficina justamente à instabilidade evidenciada no ano passado, e disse que a edição de 2014 teve o papel de recuperar essa credibilidade. Ele espera que a Oficina de 2015 tenha um conjunto de recursos superior, e disse que a divulgação dos cursos seguramente sai no primeiro semestre deste ano. "Teremos um desenho básico em maio que será tornado público em junho. Isso daria uma antecipação muito grande também para fazermos ações que tragam público de Curitiba para a Oficina. Ela é um presente para o Brasil e para a América Latina, mas precisa deixar um legado para a cidade", diz Cordiolli.
"O presidente da FCC também prevê já para este ano o agendamento de quatro anos proposto para a Oficina.
"Cordiolli adianta que um dos focos da Oficina será seu núcleo de música antiga, que quer elevar ao status de referência no Cone Sul. Outras mudanças específicas nos rumos artísticos do evento, no entanto, estariam totalmente em aberto."
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