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Passagem de Nick Cave por Curitiba é quase uma lenda urbana | Divulgação
Passagem de Nick Cave por Curitiba é quase uma lenda urbana| Foto: Divulgação

A melhor foto publicada neste ano na Gazeta do Povo foi tirada em 1987. É do fotógrafo João Bruschz. Ele acompanhou Muhammad Ali em um descontraído footing pela rua XV de Novembro.

No flagrante, o rei dos pesos pesados ("picava como abelha e flutuava como borboleta") para e beija uma criancinha qual um político em campanha. Genial.

Dia desses, outra insólita visita deu em grandes fotos. O ator americano Danny Glover (eterno sargento Murtaugh, de Máquina Mortífera) veio a Araucária e fez um discurso inflamado para "companheiros" da indústria petroquímica. Inacreditável.

Esta é uma das estranhas tradições locais.

A passagem de visitantes ilustres por aqui rende, em geral, histórias entre o bizarro e o inusitado. Direto para o folclore do nosso "frio e alagado inferno", a expressão do Padre Viera sobre a Holanda que alguns conterrâneos usam carinhosamente para a cidade.

Algumas das melhores envolvem astros do showbiz. Entre as lendas, gostaria que a mais famosa fosse verdade: um emborrachado Julio Iglesias em um famoso antro de perdição boemia no centro. Após pedir uma pala ao gaiteiro, o desempenho do catalão o fez ser vaiado para fora do inferninho.

Há, no entanto, muitas histórias comprovadas. Sem fotos, infelizmente. As melhores envolvem algumas figuras do rock que andaram aprontando por aqui entre o começo dos anos 1990 e o final dos anos 2000 – quando Curitiba ainda era rota de grandes shows internacionais.

Garimpando arquivos na erosão da memória, e com a pequena ajuda de amigos, lembrei-me de alguns casos publicáveis.

Em 2003, as irmãs Kim e Kelley Deal dos Breeders foram levadas a comer no Madalosso. Algo como chegar ao céu, para o apetite de caminhoneiro das meninas.

Durante horas, as irmãs encaravam o rodízio de bandejas de polenta, fígado e risoto, faziam pausas para fumar e voltavam para mais.

Uma manhã que, anos depois, o vocalista do Weezer, Rivers Cuomo, não teve. Ele ficou dois dias no quarto do hotel comendo pizza com medo de uma intoxicação tropical.

Mais corajosos, os caras do Stereo Total (2003) que encararam rodadas e mais rodadas de submarinos no Bar do Alemão.

No quesito bravura, porém, o prêmio vai para um dos Mercury Rev, que em 2005 foi ao James Bar testar a hospitalidade local. Não se decepcionou: o cara "pegou geral", entre meninos e meninas, quase uma dezena.

Em 2004, os Pixies agiram como locais: almoçaram na antiga Napolitana Arena e à noite comeram homus e quibe cru no Velho Oriente. Domingo de manhã, Frank Black foi a pé até a Feirinha do Largo comprar algumas bugigangas.

O grande furor, porém, foi causado por Nick Cave em 1993, época quase colonial da cidade. O australiano cá esteve para um hoje lendário concerto, numa tarde de terça-feira, na Ópera de Arame.

Consta que, desde a véspera, um pequeno e ébrio séquito se formou em volta do cantor, hospedado em um hotel perto do Teatro Guaíra.

Quase na hora do show, convencidos não se sabe por quem, Cave e "as sementes do mal" tomaram o Interbairros II para chegar ao teatro, no Abranches. Um dos grandes momentos da história do nosso transporte coletivo.

Na volta, contam que o astro pulou para "dentro dos braços" da namorada do local que lhe dava carona que, inconsolável, dizia:

– Mas Nick, eu cresci ouvindo as suas músicas...

Ao que Cave teria respondido:

– Desculpe por destruir seus sonhos de criança!

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