Não tem como engolir esses shows com hologramas de artistas mortos. Precisamos desacreditá-los. Não fosse só o mórbido mau gosto de produtores, herdeiros e plateia há outras implicações graves.
A menos que alguém admita em testamento a vontade de dar umas reboladas póstumas, o lance todo é apenas violento e antiético oportunismo.
Pensei nisso ao reler um artigo do jornalista Aramis Millarch, em que ele se revolta com o uso da imagem de sua musa Marilyn Monroe em um comercial de amortecedores. "Não satisfeitos em aviltar a vida queremos fazer isso também com a morte." Lembro que o comercial passava nos intervalos da transmissão da Rede Globo do Carnaval de 1988 (o "carnaval da constituição", vencido pela Vila Isabel com "Kizomba, a Festa da Raça").
Revisitar ao acaso os textos do Aramis no inesgotável Tabloide Digital (www.millarch.org) acervo completo de seus artigos, textos e entrevistas, digitalizado em 2009 é passatempo de minhas horas de ócio. Quando o ofício pede confirmação de datas, nomes e eventos na cultura de uma Curitiba remota, também é para lá que vou.
A quem não o conheceu, Aramis foi o ponta de lança do jornalismo cultural da terra. Nosso primeiro e principal crítico de música e cinema. Daqui, de fora do eixo, Aramis não era dos que reclamavam. Sabia onde estava a ação e ia até lá. Falava com os caras, instigava-os e, principalmente, sabia ouvir.
Para seus gravadores, artistas como Cartola, Nelson Cavaquinho, Vinicius de Moraes e João Gilberto lembraram da infância, fizeram inconfidências bêbadas, apresentaram material inédito, que Aramis catalogou e guardou para nós aqui da posteridade.
Também fazia coisas que não estão nos manuais, como quando "sequestrava" os artistas que passavam na cidade e os mantinha à uísque no cativeiro de sua casa na rua Visconde do Rio Branco, entre a Vicente Machado e a Carlos de Carvalho. Aramis, aliás, não bebia. Só tomava frapê.
Compulsivo por informação e entrevistas, gosto de rir quando ouço algum contemporâneo contar que era comum vê-lo batucando as teclas com uma mão, segurando o sanduíche com a outra, com o telefone apoiado no ombro.
Na última sexta feira, 12, Aramis teria completado 70 anos. Quem se ocupa de escrever sobre cultura em Curitiba descende e deve uma pedra para ele. E por sorte, também não tolera algumas imposturas.
Quintina Quinze Anos
Desde que surgiu, há 15 anos, o Trio Quintina é uma das maiores certezas da boa música local. A banda formada por Fabiano "Tiziu" Silveira, Gabriel e Gustavo Schwartz quer celebrar a data com pompa e planeja o lançamento de um box comemorativo com 2 CDs coletânea + 1 DVD ao vivo e inédito, com a retrospectiva das músicas autorais da carreira até aqui.
O projeto Trio Quintina 3 Ciclos está no site de financiamento coletivo catarse.me tentando arrecadar cerca de R$ 24 mil entre os fãs e os amigos para bancar a empreitada. Para colaborar, basta entrar lá e escolher a cota que esteja disposto a pagar. O Trio Quintina toca todas as quartas-feiras no bar Ao Distinto Cavalheiro (R. Saldanha Marinho, 894, Centro), das 19 às 22 horas. Quem quiser ver se vale o investimento, pode passar lá hoje à noite.
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